Negócios do Esporte

O dilema que pode ruir o marketing do Flamengo

Erich Beting

Durante a plataforma de campanha, o grupo comandado por Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo bateu na tecla de que o marketing do clube era ineficiente. Usavam como maior argumento o fato de o Fla continuar sem um patrocinador principal na camisa durante todo o ano de 2012, enquanto a maioria dos outros adversários, bem ou mal, estavam com seus parceiros comerciais estampados no uniforme.

Veio a eleição, a chapa de Bandeira de Mello ganhou e, agora, com cerca de 15 dias de trabalho, a situação que antes era oposição já começa a sentir os efeitos de estar ''do outro lado''. Os dilemas já causaram a primeira baixa no ''time'' (leia os detalhes aqui). João Henrique Areias, que era a personificação da mudança do marketing nem bem começou o trabalho e já foi embora.

O motivo alegado era o de que Areias é um homem de planejamento, quando no momento o clube precisa de ''ação''.

Como se sabe, o vice-presidente de marketing é Luiz Eduardo Baptista. Empresário consagrado, aos 50 anos Baptista é o presidente da operadora de televisão por assinatura Sky. Bap, como é chamado, gosta de ser colocado na posição de personificação do sucesso da empresa no Brasil. Da mesma forma, é uma pessoa extremamente competitiva. Tanto que retira os aportes feitos pela Sky no esporte quando a equipe patrocinada não obtém o resultado esperado, que geralmente é a vitória. Foi assim que ruiu, por exemplo, o projeto da empresa no vôlei masculino.

Por essas características, mostra ser uma pessoa extremamente prática e, realmente, afeita à ação.

O problema é que o Flamengo não precisa, necessariamente, só de ação. O planejamento do marketing é extremamente importante para o clube pensar o que será dele nos próximos anos. Até porque o maior momento de ação que precisa ser feito é na renegociação da dívida e, também, na normalização do fluxo de caixa. Isso asseguraria o resgate da credibilidade da marca do clube para, então, o marketing poder ir atrás de receita nova.

O planejamento, nesse primeiro momento, cairia como uma luva para o projeto do novo Flamengo. Até porque dentro do próprio marketing do clube há alguns planos em execução (TV Fla e a remodelação do sócio-torcedor, por exemplo) que precisam ser vislumbrados dentro da ótica do novo projeto para o clube e também de ação constante.

Só que se a equação planejar + agir se transformar num dilema planejar x agir, o marketing do Flamengo pode entrar em ruína.

Como já ficou provado na gestão anterior, é preciso muito mais do que bons contatos e reuniões para fazer o clube alavancar as receitas, principalmente aquelas oriundas de patrocínio na camisa, algo que está cada vez mais caro e mais difícil de se conseguir no aquecido mercado brasileiro.

Um bom exemplo disso é o contrato da Adidas, negociado na gestão anterior e fechado por dez anos, com a premissa de que o clube reduzirá o número de parceiros comerciais expostos na camisa e buscará contratos de duração mais longa, seguindo o que é a tendência de relacionamento entre patrocinado e patrocinador na Europa. Foi a união de planejamento com ação.

Mas esperar planejamento quando o vice-presidente de marketing declara que ''o conceito de patrocinador master é bobagem'', propondo a rotatividade entre três diferentes marcas no uniforme do clube ao longo da temporada, sem fechar com uma única empresa é, realmente, esperar muitas ações. A maioria delas, pelo visto, assustadoras…