O conveniente valor do acordo São Paulo e Penalty
Erich Beting
Já faz quase duas semanas que, pelas redes sociais, torcedores me cobram uma análise sobre o contrato entre São Paulo e Penalty, avaliado, pelas duas partes, em R$ 35 milhões. Não havia me manifestado antes pelo fato de não ter tido tempo de debruçar-me um pouco mais sobre o assunto além do básico, que era o anúncio oficial.
Mas ontem o Rodrigo Capelo publicou mais detalhes esclarecedores em seu blog na Época Negócios (leia aqui). Da mesma forma, em entrevista à Máquina do Esporte que será publicada na sexta-feira, Rafael Gouveia, gerente geral da Penalty, afirmou entre outras coisas que o valor divulgado é de R$ 35 milhões, mas que o investido em espécie não chega a tanto.
Vamos primeiro tentar trazer a explicação para o torcedor. Os contratos de patrocínio desses grandes clubes com grandes marcas envolvem geralmente um pagamento fixo em dinheiro, apelidado de luvas. Seria o equivalente ao que um time paga para ter um jogador. No caso da Penalty com o São Paulo, ele é de R$ 13 milhões. No do Flamengo com a Adidas, de R$ 12,5 milhões durante cinco anos, subindo para R$ 17,5 milhões nos últimos cinco anos (detalhes aqui). E, no novo acordo Corinthians-Nike, de R$ 15 milhões.
Depois desse valor fixo, existe um acordo para o fornecimento de uniforme em si. É feito um cálculo geralmente usando-se como base a quantidade de peças que serão destinadas ao clube ao longo do ano. Nessa conta entra camisa de jogo, de treino, uniforme de viagem, meia, calção, mochila, etc. O valor a ser pago, aí, é geralmente divulgado tendo como base o preço ''cheio'' de cada um desses produtos. Ou seja, aquele que chega para o consumidor final. É uma forma de ''inflar'' os valores do contrato. E o preço médio por peça considerado pelo mercado é de R$ 70.
Por fim entram os valores variáveis do acordo. Quase sempre essa equação é composta de dois itens: bonificação por performance e pagamento de royalties. O primeiro é fácil de entender. Conforme o clube for nas competições, ganha prêmio em dinheiro. São as metas de desempenho. Essas, quase sempre, são levadas em conta para levar o contrato lá para o alto. E quase sempre tendo em vista o maior potencial de receita que pode existir.
Já os pagamentos de royalties são mais complexos de entender. Até porque o modelo de pagamento varia. Na maior parte das vezes é estabelecido um valor mínimo de vendas por mês. O que passa dessa conta fica parte com o fabricante e parte é repassada ao clube. Geralmente de 5 a 10% do total vendido a mais do que aquele mínimo é o que volta para o time. Mas, em alguns casos, como nos contratos de Corinthians e Flamengo, por exemplo, a empresa também garante um pagamento fixo mesmo que a meta não seja atingida.
Sendo assim, a Penalty e o São Paulo convenientemente inflaram para R$ 35 milhões o valor do contrato de ambos (ele vale isso, mas só espremendo tudo ao máximo). Para os dois, o motivo que leva a isso é o mesmo. Ficar melhor na foto com seus concorrentes. É importante para o Tricolor se posicionar como alguém que, mesmo com menor torcida, tem melhor contrato do que o Corinthians e de que está bem próximo daquele do Flamengo.
Já para a Penalty, no meio de uma mudança de mercado provocada pelo ocaso da Vulcabras|Azaleia, é perfeito mostrar que ela resolveu se meter no duelo Nike e Adidas pelos grandes do futebol nacional. Tanto que, das cinco maiores torcidas, duas (Vasco e São Paulo) estão com ela. Tudo isso representa um grande salto para uma marca que, há dois anos, estava perdida sem saber que rumo tomar e que retomou o projeto de ser a principal empresa brasileira no futebol, posto esse que já alcançou e que agora consolida e se vangloria com o acordo recorde com o São Paulo.
O fato é que Flamengo, São Paulo, Corinthians e todos os demais clubes não recebem o dinheiro que dizem quando os valores do contrato são revelados. Para quem quiser saber o valor mais ou menos exato, o ideal é esperar até abril de 2014 quando os balanços financeiros de 2013 serão divulgados. Quem sabe ali será possível ter uma ideia de quanta grana entra no caixa de cada um dos clubes referentes ao patrocínio.
Mas se você quiser ir além da picuinha de dizer ''eu ganho mais'', saiba que geralmente são as empresas de material esportivo que ditam o potencial de arrecadação dos clubes no Brasil. Por depender diretamente da venda de produtos, são elas as que mais pesquisam o quanto cada clube pode vender e, assim, pagam geralmente o preço ''justo''. E, nesse quesito, corintianos, flamenguistas e são-paulinos podem se gabar, já que estão à frente dos demais adversários. Nessa lista, se tiver com a casa minimamente arrumada, o Palmeiras também pode fazer parte. Nos rankings de vendas de uniforme, geralmente o alviverde duela com o São Paulo pelo terceiro lugar.
Só que isso é tema para outro post…