Negócios do Esporte

A hora H para os projetos de sócio-torcedor

Erich Beting

Será lançado logo mais o projeto da Ambev para turbinar os programas de sócios-torcedores em todo o país. Chamado de ''Movimento por um futebol melhor'', o plano é fazer com que os programas de benefícios para os associados saiam da letargia de ser apenas uma forma mais simples de comprar ingresso para ser,de fato, um programa com descontos em diversos produtos para a compra do torcedor.

A base para o lançamento da plataforma é o número de torcedores que existem no país conforme as pesquisas de opinião feitas periodicamente pelos principais institutos do Brasil. Na conta da Ambev, mentora do programa, se 2% de todos os torcedores se engajarem na campanha, a previsão é de que os clubes aumentem substancialmente sua receita, podendo chegar a um faturamento mensal da ordem de R$ 30 milhões.

Atualmente os programas de benefício são feitos tendo como base o interesse que existe do torcedor em ir ao estádio e, ainda, em ter facilidade para comprar ingresso, especialmente dos jogos mais concorridos. Geralmente a adesão e permanência nos sócios-torcedores estão atreladas à performance dentro de campo.

Criar outros benefícios, como a compra de produtos mais baratos, torna-se então algo naturalmente atrativo para fazer com que o torcedor tenha interesse em se afiliar a um desses programas. Nos cálculos de quem montou o projeto, os benefícios tendem a chegar a R$ 45 ao final do mês, o que poderia, nos casos dos pacotes mais baratos, representar ganho em dinheiro para o torcedor.

A questão, porém, é saber primeiro se essas pesquisas de torcidas são, realmente, a melhor base para fazer qualquer projeção. Estatisticamente, 2% é a proporção de fanáticos/ávidos consumidores numa pesquisa de opinião. E possivelmente é esse o cálculo feito pela Ambev: do universo de torcedores 2% seriam fanáticos a ponto de se engajar num programa de sócio-torcedor.

Mas aí entram as nuances que envolvem os clubes. Os projetos, pelo histórico, se relacionam com o torcedor apenas pela venda de ingresso de jogo. Os planos que tentaram criar alternativas de consumo geralmente naufragaram, principalmente pelo fato de a principal fonte de receita estar no tíquete para a partida. Será preciso repensar o modelo usado até agora e, especialmente, modificar a plataforma de comunicação com o consumidor.

E é nessa hora que o fato de o público-alvo dos sócios-torcedores ser apenas o mais fanático cria um caminho mais difícil para que os projetos vinguem. Com o fanatismo, a adesão ao conceito do projeto oscila muito mais conforme o desempenho do time. A tendência é que o aumento dos benefícios concedidos ao torcedor amplie também a adesão deles aos projetos.

Resta saber se as empresas envolvidas terão paciência de esperar pelo entendimento, por parte do consumidor, de que sócio-torcedor pode ir além da facilidade de acesso ao ingresso…