Negócios do Esporte

O grande lance de Armstrong

Erich Beting

Não tive tempo para comentar antes, até porque não havia muito mais a acrescentar além do que já foi dito. A repercussão mundial da entrevista em que Lance Armstrong confessa ter feito uso do doping não muda a minha opinião sobre o tema (ela está aqui, da época em que o castelo de areia de Lance começou a ruir).

O lance é que Armstrong fez muito pelo ciclismo. Foi o cara que, pela sua história, levou as pessoas a se interessarem pela modalidade. Daí o tombo agora ser tão grande. É aquela ducha de água fria ao vermos um grande ídolo pisar na bola, ou explodir a bola, como ele fez.

O mito ruiu de vez, com toda a mentira perpetuada por ele ao longo do tempo. É a típica situação que nos força a pensar dez milhões de vezes antes de tomar qualquer outra nova atitude ligada ao esporte. Para a mídia, fica a lição de que a palavra não tem qualquer validade, por mais confiável que seja a fonte. Para o patrocinador, idem. E para o torcedor, fica aquela aflitiva dúvida toda vez que vemos um atleta ser tão vencedor como ele pareceu ser.

Por todas as mentiras que fez questão de transformar em verdade, Armstrong não é mais digno de desculpas. O doping é um problema sério do esporte, e não sejamos hipócritas em acreditar que os atletas se submetem ao esforço diário da atualidade sem fazer uso de substâncias suplementares para isso.

Uma coisa só não dá para ser jogada fora em toda essa história. O trabalho social feito em cima da história de recuperação do câncer é o grande lance de Armstrong. Ok, essa história não é mais tão bela quanto antes, mas seria ainda mais injusto com quem consegue viver graças ao trabalho da entidade que tudo virasse pó junto com a credibilidade de Lance Armstrong.

Muito melhor do que oferecer recompensa em dinheiro a seus patrocinadores pelos danos causados seria investir todos esses milhões na manutenção da LiveStrong. Mas, para isso, a melhor coisa que Armstrong tem a fazer é depositar a grana, subir numa bicicleta e se perder pelo meio do Texas.

Quem sabe esse seu novo exemplo faça com que a sociedade se cure desse mal que é o sentimento de que os fins sempre justificarão os meios. O esporte, quando usado para o bem, tem uma força única de transformação da sociedade. Taí uma boa oportunidade para se explorar nos próximos meses.