A hora de o esporte focar no consumidor
Erich Beting
O último relatório da Deloitte sobre as finanças dos clubes de futebol na Europa traz uma análise interessante sobre o que eles consideram os países ''emergentes'' do mercado da bola. Na visão da consultoria, clubes do Brasil e da Rússia devem, na próxima década, começar a figurar de vez em quando na lista dos 20 clubes que mais arrecadam no futebol mundial.
A lógica apontada pela empresa é simples. Os novos estádios construídos para as Copas de 2014 e 2018 farão com que a arrecadação em dias de jogos aumente substancialmente. Assim, os times vão conseguir faturar mais. A base para isso é o salto nas receitas dos próprios clubes europeus desde que passaram a reformar seus estádios. O processo começou no início da década de 2000 e se estendeu nos últimos anos.
Sem conseguir aumentar a arrecadação de TV e patrocínio, resta aos clubes buscarem o dinheiro no consumidor. A era, agora, é a do marketing como forma de estreitar o relacionamento e o consumo do torcedor.
Esse é o salto que ainda falta para o esporte no Brasil. Não apenas no futebol, carro-chefe da indústria esportiva do país, mas especialmente nas demais modalidades. Por aqui, ainda enxergamos como pontos fundamentais para o desenvolvimento de uma modalidade a busca por um parceiro de mídia e de um patrocinador para ''fechar a conta''. O torcedor ainda está colocado como o terceiro elemento na lista de prioridades.
Só que, com isso, invertemos completamente a lógica. Se trabalharmos o interesse do torcedor em consumir um atleta, um time ou um esporte, vamos atrair a atenção da mídia e também dos patrocinadores. Afinal, esses dois últimos elementos da cadeia esportiva são os que trabalham na maior parte das vezes com a razão, e não com a emoção. Para investir dinheiro numa transmissão ao vivo, ou num patrocínio, não adianta só ser um entusiasta do esporte.
Na Europa e nos Estados Unidos em crise, a maior dificuldade dos executivos do esporte é fazer o torcedor consumir. Com menos dinheiro no bolso, limitam-se os gastos com lazer. E a indústria do entretenimento é uma das primeiras a acusar o golpe.
No Brasil turbinado pela economia do pleno emprego e pela aproximação de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, não buscar o torcedor para ''pagar a conta'' é sinal de despreparo. Ou de um desprezo que, no longo prazo, vai apresentar sua conta.