Bellucci, o Barrichello do tênis
Erich Beting
Rafael Nadal e Thomaz Bellucci deram o ar da graça na noite da última terça-feira no Brasil Open de Tênis. O tenista espanhol, mais badalado atleta da competição, estreou, e quase perdeu, nas duplas ao lado do argentino David Nalbandian. O tenista brasileiro, mais bem ranqueado entre os atletas do Brasil presentes no saibro montado no ginásio do Ibirapuera, também quase perdeu, mas no jogo de simples, contra o compatriota Guilherme Clezar.
Os dois jogos mostraram, claramente, o quanto o componente do carisma é fundamental para a formação de ídolos no esporte. O Ibirapuera estava bastante cheio em plena terça de Carnaval. Ficou assim até o último jogo do dia, quando Nadal e Nalbandian tiveram de salvar dois match points para seguirem no torneio. Antes, Bellucci precisou do set de desempate contra o novato Clezar para não cair na estreia no Brasil.
O comportamento do torcedor nos dois jogos deixou bem claro o quanto Nadal é ídolo e Bellucci, um mero figurante para o brasileiro que é fã de tênis.
Assim que Clezar conseguiu levar o jogo contra Bellucci para o terceiro set, a torcida passou a ser maior para o tenista gaúcho, que aparecia como grande azarão contra o maior tenista do país. No caso de Nadal/Nalbandian, a virada que decretou a vitória da dupla foi celebrada por um ginásio totalmente pró-espanhol e argentino.
O torcedor que vai ao Brasil Open quer ver Nadal. Assim como quis, no passado, assistir a Guga, Meligeni, Agassi, etc. Bellucci é um mero figurante para a maioria do público presente no ginásio do Ibirapuera. O ginásio lotou na terça não por causa do brasileiro, mas sim pelo interesse que Nadal gera para o espectador.
Falta, a Bellucci, não apenas as vitórias, mas principalmente o carisma de um grande atleta. Em performance, ele já superou Fernando Meligeni e só está atrás de Guga na história do tênis brasileiro. Em imagem, não consegue, de qualquer maneira, empolgar. Até mesmo nas entrevistas dadas antes da estreia em São Paulo ele admitiu que está longe de ser o mais popular da turma de tenistas presentes no saibro brasileiro.
Só que isso é um tremendo problema para Bellucci se quiser, de fato, galgar mais espaço no coração dos apaixonados pelo esporte. Só as vitórias não serão suficientes para que ele consiga inspirar a torcida. Nadal é uma boa mostra disso. Além de vencedor, é um cara que está preparado para tirar proveito da fama. Sabe transmitir mensagem, sabe ditar tendência, naturalmente é alguém que inspira as pessoas.
O Brasil Open deixa cada vez mais claro que Bellucci tem uma trajetória muito similar a de Rubens Barrichello. É um profissional muito qualificado, mas não tem qualquer carisma para cativar os torcedores. Curiosamente, os dois surgiram para o esporte que praticam num momento em que o maior ídolo da modalidade, tanto em carisma quanto em performance, tiveram suas carreiras prematuramente interrompidas.
Mais do que a performance, o carisma é imprescindível para se formar um ídolo. E isso, geralmente, vem gravado na pessoa ainda na infância. Não é possível fabricar.