O risco do ranking do UFC
Erich Beting
Principal fenômeno de expansão na mídia do esporte nos últimos cinco anos, o UFC deu um arriscado passo recentemente. Desde que passou a crescer, sob comando de Dana White, o grande segredo da liga de lutas mais desejada do mundo foi exatamente dar preferência ao entretenimento no lugar do esporte.
Dana é quem, com pulso firme, comandava o espetáculo de seus lutadores. Como bem apelidou Galvão Bueno na primeira transmissão da TV Globo do UFC, era a reprodução do circo de Roma em pleno terceiro milênio. Tal qual o imperador do passado, o chefão do UFC é quem escolhia os dois gladiadores no octógono.
Isso assegurava nem sempre o duelo esportivamente mais equilibrado, mas sem dúvida eram os dois maiores personagens que estavam em ação naquele momento. Com o melhor pagamento de bolsas para os seus atletas, Dana assegurava que a luta que promovia seria desejada pelo público a partir dos protagonistas.
Talvez quem melhor tenha encarado essa “missão” dentro da liga tenha sido Chael Sonnen. O falastrão americano estava longe de ser o número 2 em qualidade esportiva, mas com certeza era o líder no quesito promoção de uma luta. O que ele fez de ação promocional para que o Brasil quisesse ver os duelos com Anderson Silva tem de entrar no balanço final do UFC como estratégia bem sucedida para ganhar popularidade no país.
Só que agora a formação das lutas deverá ser baseada não mais no “feeling” do criador da liga, e sim no desempenho técnico dos desafiantes. Sem dúvida que, esportivamente, há um ganho para o UFC. É bem provável que duelos de cinco segundos de duração tornem-se raridade.
Mas, como ferramenta de marketing para promoção da liga, o UFC terá prejuízo com o seu ranking. Pelo menos o sonho de ver o esporte como o segundo em popularidade no país estará longe de ser alcançado. Boa parte do consumo da modalidade nos últimos meses foi impulsionado pelo caráter promocional de seus lutadores.
Nem sempre o público quer apenas a melhor disputa esportiva em cena. Considerando que o UFC fez sua fama, principalmente no Brasil, a partir dos critérios nada esportivos para a seleção dos lutadores, a massificação do esporte pode estar com os dias contados.