Negócios do Esporte

Um novo caminho para os esportes olímpicos

Erich Beting

A poeira começa a baixar após o desmantelamento das equipes de judô e ginástica do Flamengo. O movimento, aparentemente, é sem volta. Em nome do saneamento financeiro do clube, o Rubro-Negro acabou com mais duas modalidades.

O torcedor apaixonado pela marca Flamengo tem, obviamente, de espernear. Faz parte da história e da tradição do clube. Mas, como acontece em todos os clubes que têm departamento de futebol profissional e é reconhecidamente uma marca desse esporte, está cada vez mais improvável manter-se como um clube poliesportivo.

Mundialmente são pouquíssimos os clubes fortes no futebol e que mantêm, com sucesso, mais de uma modalidade esportiva. Barcelona e Real Madrid possuem equipes de ponta no basquete. O Fenerbahçe, da Turquia, também. Mas nos três casos geralmente os custos desses atletas são bancados pelo pretenso superávit da operação no futebol. Na Inglaterra e na Alemanha, os times de futebol são apenas isso. Sem perder energia com modalidades que geram muito menos dinheiro. Nos Estados Unidos, cada clube só trabalha o departamento profissional daquela modalidade, sem sequer trabalhar na formação de talentos, função relegada às escolas e universidades.

Aqui no Brasil, os clubes passaram a ter uma espécie de obrigação em cuidar de todas as pontas da cadeia do esporte. Tem de ter o profissional, mas desenvolver a base. Tem de ter o futebol, mas também o vôlei, a peteca, a ginástica, o judô, o basquete, o tênis, etc.

O fato é que, às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016, talvez o recado dado pelo Flamengo seja claro. É preciso pensar um novo caminho para a existência dos esportes olímpicos. Do jeito que é hoje, com a formação de atletas baseada totalmente nos clubes, os esportes olímpicos sobrevivem, em vez de existir.

As três únicas exceções a esse modelo são o Pinheiros, em São Paulo, o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, e, numa escala um pouco menor, o Sogipa, em Porto Alegre. Para conseguir isso, obviamente que os três clubes ignoram o futebol profissional. Não fosse isso e muito provavelmente seria difícil manter tantas modalidades diferentes e formar tantos atletas.

O nível de exigência do esporte de alto rendimento faz com que o modelo brasileiro atual seja impraticável. Os dirigentes dos clubes ficam reféns do futebol para obter a maior parte de sua receita, e das demais modalidades para ter votos e chegar ao poder.

A realização da Olimpíada no Brasil poderá impulsionar a criação de centros de formação de talentos para o esporte. Nos últimos quatro anos, já surgiram diferentes projetos do gênero, espalhados por todo o país. Cada um deles geralmente abraça apenas uma modalidade, o que faz com que haja maior investimento num único esporte e, também, mais chances de obtenção de resultados a partir disso.

Esse talvez seja o modelo mais interessante para o Brasil seguir.

Com o investimento de empresas privadas ancoradas em leis de incentivo, temos condições de trabalhar o potencial dos atletas independentemente da existência de um clube para “empregá-lo”.

Para a marca, esse investimento traz retorno institucional. Para o governo, é uma forma de ajudar a dar mais acesso à prática esportiva para a população. Para o atleta, é a chance de ter estrutura para crescer. As três partes teriam a ganhar com isso. E, na ponta final disso tudo, temos a chance de tentar formar uma nação com maior capacidade dentro do esporte.

Só não podemos acordar para isso depois que passar o argumento das Olimpíadas para investir.