Negócios do Esporte

O país que queremos para nós

Erich Beting

O bordão ''Imagine na Copa'' ganha a versão mais completa quando estamos no Rio de Janeiro. Em meio às obras preparativas para Copa e Olimpíadas, temos ainda situações absurdas do cotidiano fluminense que chegam a assustar quem conhece minimamente a cidade.

Situação peculiar foi vivida nesta terça-feira. A caminho do evento de lançamento do Rio Open de Tênis, tentei contratar o serviço das empresas de táxi que atendem à cooperativa com a qual o BandSports tem contrato. A corrida era simples. Do aeroporto até o hotel Sheraton na Avenida Niemeyer, distância de cerca de 15 quilômetros e no contra-fluxo do horário.

Nas contas de quem há dez anos visita bastante o Rio a trabalho, o táxi poderia cobrar no máximo R$ 50 pelo trajeto, e mesmo assim se pegasse trânsito para chegar até o hotel. Na hora de pedir o veículo, a surpresa. Preço de corrida fechado, a R$ 104. De prontidão peguei os táxis amarelos, que têm seus problemas, mas que seguem o preceito do que é um táxi. Um veículo que funciona com um taxímetro. No final da história, ida e volta ao aeroporto num total de R$ 86, sendo que um carro quebrou no meio do caminho e tivemos de trocar de veículo.

A história pessoal não é advogar em causa própria. Pelo contrário. Enquanto me dirigia ao verdadeiro táxi, e não ao estelionatário de plantão, pensei no impacto que tem, para a imagem do Brasil, quando um turista chega aqui e se depara com uma situação dessas. Não só o estrangeiro, mas também o brasileiro que não sabe onde está pisando.

Um ágio de 200% sobre o preço normal da corrida de táxi é de envergonhar quem se preocupa minimamente em receber bem uma visita. Nessas horas, a sensação que fica é sempre a mesma: ''Imagina na Copa''.

Não dá para pensar em engarrafamentos de trios elétricos se não temos honestidade nem na hora de oferecer um serviço básico como o transporte de táxi para alguém de fora da cidade.

Um dos grandes baratos de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no país é receber um contingente bacana de turistas que talvez não fosse se reunir em tanta quantidade e por tanto tempo como será em 2014 e 2016. Mas aí entra o ponto básico de discussão, que é saber o país que queremos para nós mesmos.

Será que a melhor maneira de impactar o turista é cobrando duas vezes mais do que o preço normal de uma corrida de táxi? Ainda mais na cidade mais turística do país, que não dependerá dos megaeventos para aumentar a receita com o turismo. O Rio sempre tem no turista uma fonte de receita, diferentemente de boa parte das outras cidades que abrigarão esses dois eventos.

Ou o brasileiro começa a forçar uma mudança de mentalidade na gastança desenfreada que se tornou o setor de serviços, ou então teremos que promulgar a malfadada frase ''Imagine na Copa'' até 2014 e sua variável para as Olimpíadas até 2016. Depois disso? Bom, aí talvez seja a hora de imaginarmos como a festa poderia ter sido melhor se tivéssemos planejado e executado esses eventos. Receber com honestidade o turista que chega a um lugar não depende de eventos esportivos para se tornar realidade. Depende de interesse dos moradores brasileiros em serem civilizados.

Se não, tem como não imaginar como será na Copa?