O continuísmo que interfere no resultado
Erich Beting
O São Paulo vive um drama raramente visto na sua história de Copa Libertadores. Entra na última rodada de uma primeira fase aparentemente simples precisando vencer o melhor time da competição e, além disso, torcer por um resultado adverso do The Strongest, da Bolívia! Definitivamente essa não é uma situação a que o torcedor esteja acostumado.
Mas o que houve com o ''Soberano'' de tempos atrás que virou um time sofrível na competição que sempre soube jogar melhor do que qualquer outro clube brasileiro?
Uma das chaves do São Paulo campeoníssimo da década passada foi apostar no continuísmo. Era um dos poucos clubes com uma comissão técnica permanente, com planejamento impecável na dinâmica do time de futebol, sem grandes alterações de elenco, treinador e pessoas que trabalhavam com o time.
O principal ponto de virada veio, curiosamente, quando um dos grandes responsáveis por manter essa estrutura deixou o comando do futebol e assumiu a gestão do clube. Juvenal Juvêncio era o vice-presidente de futebol. Entrou no lugar de Marcelo Portugal Gouvêa na presidência. Somou-se a isso, pouco depois, a saída de Marco Aurélio Cunha da superintendência de futebol para ser vereador na cidade de São Paulo.
Desde então, as coisas passaram a desandar. O futebol passou a conviver com troca de treinadores, entrada e saída de jogadores e, pior, a um sentimento de abandono de comando do departamento. Isso, num dia a dia de clube, é o primeiro passo para uma queda de rendimento (Palmeiras e Flamengo são ótimos exemplos disso).
Agora, o continuísmo passou a ser na gestão do clube. Juvenal, mudando o estatuto, elegeu-se mais uma vez em 2011, acabando com uma espécie de dogma que havia no Morumbi, de que não poderia ter um terceiro mandato. Desde 2006, o São Paulo tem o mesmo presidente. E, desde 2008, quando as preocupações sobre o estádio do Morumbi fazer ou não parte da Copa passaram a dominar o cotidiano do clube, o futebol foi abandonado de vez.
Se antes o continuísmo dos profissionais no futebol era um dos segredos para o clube vencer, a partir do momento que o continuísmo passou a ser na gestão do clube, a performance esportiva despencou de vez. O Soberano deu lugar a um time que repete o erro dos outros. Tanto que a última bobeada da diretoria de futebol foi demitir Luiz Rosan, considerado o melhor fisioterapeuta do futebol brasileiro. Coincidência ou não, processo semelhante viveu o marketing tricolor há cerca de cinco anos…
O continuísmo interfere no resultado, sempre. Pode ser para o bem ou para o mal. O São Paulo mostrou, na última década, as duas faces desse conceito.