O porquê de CBF e COB serem os mais ricos do mundo
Erich Beting
Matéria de hoje do UOL mostra que o faturamento de CBF e COB atingiram níveis jamais vistos na indústria do esporte. Sim, os quase R$ 400 milhões que a CBF recebeu em 2012, e os pouco mais de R$ 100 mi que o COB faturou somam recordes no mercado. Raramente confederações nacionais conseguem faturar tanto dinheiro assim.
Com os números apresentados, pode-se dizer que nenhuma confederação ganha tanto dinheiro no futebol quanto a CBF. E, em relação aos comitês olímpicos nacionais, possivelmente o COB está entre os cinco de maior arrecadação.
O resultado tem explicação que vai além da simples realização de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos por aqui. Logicamente que a proximidade dos dois eventos ajuda bastante. No caso da CBF, o grosso de investimento veio de 2008 para cá, quando o Brasil foi confirmado como sede do Mundial. No do COB, aumentou-se a arrecadação com novos patrocínios, mas o grosso da verba continua a vir das loterias.
O fato é que a indústria do esporte no Brasil, por ainda ser incipiente, permite que haja uma distribuição desigual da renda dentro do esporte. Em vez de o investimento das empresas ser mais pulverizado entre diferentes entes do esporte, ele se concentra em propriedades maiores e, por isso, mais caras.
A força da CBF é também um reflexo da fraqueza do restante do mercado esportivo no brasil. A monocultura futebolística faz com que os investimentos sejam mais concentrados na modalidade. Além disso, os altos valores cobrados pelos clubes faz, com o cenário da Copa, a seleção ser uma ótima propriedade a se investir. Entre gastar cerca de R$ 15 milhões ao ano por um único time ou ter a seleção por metade desse valor, é compreensível escolher a segunda opção. Sem rejeição de torcida, o investimento fica ainda mais lógico.
Já nos outros esportes, o COB criou, ao longo dos anos, diversos mecanismos legais para se tornar uma espécie de ''pedágio''. À exceção do futebol, para um esporte ter verba, geralmente precisa do aval da entidade. A lei que entrega ao COB o direito de receber todo o dinheiro das loterias e definir a forma de repasse e até mesmo a formatação das competições olímpicas, privilegiando os comitês nacionais, reforçam o direcionamento do dinheiro para o COB.
E aí é que entra a questão da fraqueza da indústria do esporte no Brasil.
Hoje, por incrível que possa parecer, o artista é quem menos fatura. A fatia da verba das empresas que vai para os atletas é a menor entre tudo o que se investe no esporte no país. Em locais com a indústria mais desenvolvida, o atleta é uma ponta forte da indústria. Ele tem patrocínios pessoais, salários altos e fica com boa parte do bolo de investimentos. No Brasil, o atleta ainda se vê como o ''coitado'', reclamando da falta de incentivo sem perceber que o dono do show é ele, e que tem de fazer jogo duro para faturar mais.
Com a ponta que deveria ser a forte enfraquecida, e com uma estrutura esportiva enraizada nas federações e clubes, o esporte direciona a verba para o topo da pirâmide. E isso gera uma distribuição desigual de receita. As entidades representativas de classe, que são a ponta final de toda a indústria, recebem os melhores patrocínios. Depois estão os clubes, também com uma distribuição desigual, com muita verba para poucos. E, por fim, estão os atletas, que raramente ganham mais do que o salário.
Em outros países, os atletas e os clubes acabam valorizando-se mais, fazendo com que a verba investida pelas empresas seja mais pulverizada. Por aqui, CBF e COB estão no topo da pirâmide de faturamento, e curiosamente são os entes esportivos que menos precisam de verba, já que teoricamente não precisam bancar a ponta mais cara do negócio, que é o atleta.
Enquanto a cadeia produtiva do esporte como um todo não se fortalecer, a verba continuará a ser distribuída de forma desigual. Essa mudança passa, necessariamente, pela criação de mais infraestrutura para a prática do esporte e, também, pelo aumento das competições e premiações de atletas.
O problema é que, do jeito que estão estruturados COB e CBF, achar um caminho para a mudança é extremamente difícil.