Negócios do Esporte

O retrato da Copa no Brasil

Erich Beting

Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto é o jogo que oficializa a abertura do Maracanã, cerca de dois meses antes de sua utilização oficial na Copa das Confederações, cerca de meio ano de atraso em relação ao prazo inicial determinado pela Fifa.

E reabre assim, numa pelada entre amigos. Amigos, aliás, que foram chamados às pressas para socorrer a imagem da Copa no Brasil. E que tentam, desde então, fazer tudo para que os erros cometidos pela organização do Mundial no país tentem ser revistos como algo que faz parte do jogo e que, claramente, tudo está sob pleno controle.

Não está. E isso é óbvio. Perdemos, ao longo dos últimos seis anos, a chance de executar uma Copa brilhante. Faremos uma excelente farra, bem ao estilo brasileiro de ser, mas deixaremos de ganhar muito mais como nação ao produzir um evento menos organizado do que ele poderia.

E a síntese disso é ver o principal estádio da Copa, palco da decisão e de uma história que se confunde com a própria história do futebol no país ser inaugurado com um jogo entre Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto. É a síntese do descaso com o qual nós, como nação, tratamos a oportunidade de organizar uma Copa do Mundo.

Sim, o fato de esse ser o jogo de abertura do Maracanã sintetiza o despreparo que tivemos ao longo desses anos todos em projetar o futebol no país não apenas pensando na Copa, mas pensando na indústria do futebol.

Afinal, quanto dinheiro a mais entraria no futebol hoje se nós tivéssemos, a essa altura, com os novos estádios para o Mundial prontos? Quanto mais de gente colocaríamos nos estádios? Como o torcedor não conseguiria já curtir um clima de que o grande evento chegou vendo os estádios prontos e em pleno ritmo de funcionamento?

Infelizmente reduzimos o Mundial a um Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto.

Já que é para avacalhar, bem que poderia ter sido um jogo inaugural com um Amigos de Pelé x Amigos de Romário.