O Flamengo vale menos do que o Corinthians
Erich Beting
O Flamengo é a maior torcida do Brasil. Mas o Flamengo não é o clube mais valioso do país. As duas afirmações podem ser estatisticamente comprovadas e precisam ser absolutamente levadas em conta quando iniciamos qualquer debate sobre o valor que a Caixa pagará ao Flamengo no contrato de patrocínio.
Os R$ 25 milhões podem ser justificados e não devem, de maneira alguma, ferir o ego do torcedor flamenguista. Existe hoje uma realidade no mercado que faz do Corinthians o time com maior valor de mercado do país e o Flamengo o segundo colocado.
Corinthians e Flamengo são os dois clubes com maior número de jogos exibidos pela TV aberta para todo o país. No período em que construiu a maior torcida do Brasil, o Rubro Negro foi o clube que mais apareceu na tela da Globo em abrangência nacional. Hoje, porém, a realidade mudou.
Desde que Ronaldo passou a jogar pelo Corinthians, o clube paulista ampliou o alcance de transmissão dos seus jogos. De 2009 para cá, o Timão passou a ser imagem mais frequente nas regiões Norte e Nordeste, antes reduto dos times do Rio de Janeiro, especialmente do Flamengo.
Em 2013, então, essa lógica da TV ficou ainda mais evidente. Com a conquista do título Mundial pelo Corinthians e a ausência do Flamengo da Copa Bridgestone Libertadores, passou a ser ainda mais constante a presença do Timão na telinha. Só para se ter uma ideia, a Globo exibiu 15 jogos do Corinthians este ano. Já o Flamengo teve oito aparições na TV aberta.
Com a eliminação precoce do Rubro Negro do Estadual do Rio, e com a Copa do Brasil ainda em fase inicial, a tendência é que o abismo aumente ainda mais. Talvez no Campeonato Brasileiro a balança fique um pouco mais equilibrada.
Soma-se a isso um outro fator importante para mensurar o valor a ser pago pelo patrocínio. Pelo novo sistema de patrocínio de camisa implementado pelo Flamengo, a Caixa terá como exposição apenas o peito da camisa, enquanto as costas ficarão ocupadas pela Peugeot. E, assim, a quantidade de aparições da marca do banco no uniforme será menor do que se ele estivesse no peito e nas costas.
Tudo isso já faz, na hora de se valorar um patrocínio, com que o Flamengo tenha de receber do que o do Corinthians. Afinal, a marca do patrocinador estará com menos exposição na mídia e, também, com menos propriedades no uniforme do clube.
Não pensem que o acordo Flamengo-Caixa tenha desconsiderado esses fatores na hora de estudar o valor do patrocínio a ser pago ao clube. Com certeza isso balizou bastante o negócio e até mesmo justificou, para a empresa e para o clube, o montante a ser investido.
O torcedor tem todo o direito de achar que seu clube é o mais valioso do mundo. E, para ele, tem de ser mesmo. Mas o gestor do clube não pode, de forma alguma, acreditar nisso.
E é um tremendo mérito da nova diretoria flamenguista saber que não dá para, hoje, o Flamengo estar no mesmo patamar do Corinthians. Com o patrocínio ao futebol no Brasil ainda muito calcado na exposição da marca, ninguém supera o Corinthians. E quem mostra isso, mais uma vez, é o próprio mercado.