Negócios do Esporte

Aulas de Londres para a torcida

Erich Beting

Torcer é um ato de civilismo. Ou pelo menos deveria ser. Em Londres, na final entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund, a polícia inglesa tinha um desafio pela frente, já que a partida reunia dois times de um mesmo país e que, por isso, tinham maior potencial para adversidades.

A solução encontrada pelos policiais e pelos organizadores da Liga dos Campeões da Europa foi dividir o estádio em três diferentes partes. Sem a divisória física na arquibancada, a saída foi deixar a parte central das cadeiras de Wembley para o torcedor ''comum'', traduzidos pelos 27 mil convidados de patrocinadores e parceiros comerciais da Uefa e os 10 mil ingressos vendidos para o público em geral.

Com isso, por meio de entradas em lados opostos, torcedores de Bayern e Dortmund ocuparam cada um a faixa atrás de cada um dos gols do estádio. Isso já fez com que o primeiro problema fosse dissipado. Dentro do estádio, pelo menos, não houve qualquer confusão.

O ''problema'' foi o encontro de torcedores pelo metrô, principal meio de transporte usado para levar as pessoas ao estádio. Na saída da estação de Wembley houve o único conforto entre alguns torcedores mais exaltados e rapidamente dominados pelos policiais.

Sem dúvida que a ótima experiência que o torcedor teve em todo o processo dentro do estádio colaborou para que os conflitos fossem minimizados. Esse, talvez, seja o principal motivo para que, quando vai a um jogo de futebol atualmente, o torcedor na Inglaterra sinta-se intimidado a ter um melhor comportamento.

Por onde o torcedor anda, ele recebe bom tratamento.

Seja no acesso fácil ao estádio, ou no bom atendimento para entrar no setor que corresponde a seu ingresso ou para encontrar seu lugar. Tudo isso faz com que seja criada uma atmosfera agradável ao consumidor, algo muito diferente do que acontece em estádios na América do Sul e Itália, para citar exemplos de lugares onde a violência tem sido flagrante nos últimos tempos.

No fim das contas, o torcedor é colocado na posição de ator importante do jogo e, mais ainda, como principal motivo para a existência do evento. Isso cria nele responsabilidades, principalmente a de bom comportamento. Para quem acha que é só cobrar mais caro o ingresso do jogo para o perfil do torcedor mudar, a final da Champions League foi uma aula de como fazer com que mude o comportamento dos torcedores, e não necessariamente as pessoas que vão a um jogo.