Negócios do Esporte

O segredo do judô no Brasil

Erich Beting

A Confederação Brasileira de Judô anunciou ontem o patrocínio da Petrobras para os próximos quatro anos. A empresa vai aportar R$ 20 milhões no período, sendo a sétima empresa a se tornar patrocinadora da CBJ (detalhes aqui). A três anos do início dos Jogos Olímpicos, mais uma vez o judô parece ser uma espécie de ''exceção'' entre as confederações brasileiras.

A CBJ é a entidade, à exceção da CBF, que mais consegue patrocinadores no país. Não apenas empresas estatais, que é a regra entre as entidades esportivas do país que não trabalham com o futebol. Sadia e Bradesco, por exemplo, iniciaram o movimento de patrocínio às confederações pelo judô.

Em 2011, no levantamento anual que fazemos na Máquina do Esporte sobre o mercado de patrocínios no Brasil, foi possível observar que a CBJ era a única entidade além do futebol que, antes de o Brasil ser eleito sede dos megaeventos, tinha uma empresa privada como patrocinadora além do fornecedor de material esportivo.

Mas o que faz do judô um modelo a ser seguido nos esportes ditos olímpicos?

O segredo não é tão segredo assim. A CBJ faz um trabalho muito forte na área do marketing, que deveria ser uma regra entre as entidades esportivas no país. Não apenas na busca por recursos, mas principalmente na retenção do cliente. Prova disso é que, na próxima semana, mais uma vez a entidade fará um encontro para seus patrocinadores. Já é a quarta edição do evento, que tem como objetivo reunir os parceiros comerciais da entidade para trocarem ideias e, também, trazer novos conceitos para os patrocínios.

Da mesma forma, várias outras ações são feitas pela entidade ao longo do ano para aumentar o benefício ao patrocinador.

Como sempre dizemos aqui no blog, a relação de patrocínio não pode ser marcada apenas pela exposição da marca. E, para não deixar que isso aconteça, também não adianta só um dos lados se esforçar em fazer o relacionamento ir além do valor de mídia espontânea que ele naturalmente gera.

Mas o segredo do judô logicamente não se resume ao bom trabalho de captação e retenção de clientes. O desempenho no tatame é parte essencial para que a modalidade também chame a atenção das empresas. Em Londres, a modalidade colocou 14 atletas pela primeira vez na história na disputa e conquistou quatro medalhas, entre elas o inédito ouro no feminino.

Com a aproximação da inédita Olimpíada em solo brasileiro, patrocinar o judô pode significar para a empresa se ''apropriar'' de uma eventual conquista dos atletas do país. A Scania, parceira desde 2007 da modalidade, fez essa brincadeira em propaganda pós-Londres: ''transportar ouro também é com a gente''.

Com desempenho esportivo e um trabalho consistente de marketing para conquistar e reter clientes, o judô brasileiro tem mostrado que é possível viver bem sem ser do futebol e de sua exposição em mídia desproporcional. Na realidade, não tem muito segredo, mas parece que a lição de casa é sempre deixada para lá pela maioria das confederações esportivas no Brasil.