A TV Benfica pode revolucionar o futebol
Erich Beting
Aos poucos o Benfica construiu algo que pode vir a ser um ''monstro'' dentro do mercado de direitos de transmissão no futebol. Há pouco mais de quatro anos, o clube português lançou o próprio canal de TV, em parceria com a operadora portuguesa Meo. O contrato de exclusividade, que acaba em julho, serviu para que, aos poucos, o Benfica decidisse ser uma empresa de mídia (leia mais aqui).
Em Portugal, o clube já é o detentor exclusivo dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro da Série A, da Liga Inglesa de futebol, da Liga Americana de Futebol (MLS) e da Liga Grega. Agora, passou a ser também o único canal que transmitirá os jogos do Benfica no estádio da Luz.
A estratégia fez com que, recentemente, o Benfica recusasse uma proposta milionária por direitos de transmissão de suas partidas e apostasse na transmissão exclusiva, onde fatura com a comercialização de pacotes publicitários e com a assinatura do canal. O modelo de negócios ainda não está provadamente sendo mais rentável para o clube, mas a atitude abre um precedente interessante.
Se os clubes passarem a seguir a estratégia do Benfica, isso pode mudar a relação dos clubes de futebol com as TVs pelo mundo. Na Europa, boa parte dos países já aderiram à negociação coletiva dos direitos de transmissão de suas ligas. Portugal e Espanha ainda são locais em que os clubes negociam individualmente (e, não por acaso, são os locais onde há maior disparidade entre times grandes e pequenos).
Caso o modelo do Benfica prove ser sustentável e, mais do que isso, mais rentável que o sistema atual, é natural que boa parte dos clubes passem a querer reivindicar o mesmo esquema de negociação.
E é aí que o futebol pode sofrer uma revolução na negociação dos direitos de transmissão.
O grande problema desse modelo é que ele tende a separar, cada vez mais, os clubes grandes daqueles menores. No mercado brasileiro, como a legislação exige que os dois times aceitem a transmissão de uma partida pela TV, é mais difícil que o modelo prospere. Mas, na Europa, em que a escolha da parceira de transmissão é feita pelo clube mandante, é bem mais simples de adotar o sistema da TV Benfica.
Como venho dizendo por aqui, o esporte precisa se perceber cada vez mais como uma plataforma de mídia. O que o Benfica faz, porém, é levar à última instância esse conceito. E, por mais antagônico que possa parecer, isso pode ser um problema para a sustentabilidade financeira do esporte.