Com Bolt, o raio caiu num único lugar
Erich Beting
Usain Bolt escreveu, mais uma vez, um pouco da sua lenda no último dia do Mundial de Atletismo em Moscou. Com o revezamento 4x100m, o jamaicano se igualou a Carl Lewis e Michael Johnson entre os maiores medalhistas de ouro do atletismo.
O estraçalhamento de recordes de Bolt o coloca como a maior lenda do esporte na atualidade. Ainda mais num momento em que a credibilidade do atletismo foi colocada à prova por exames antidoping reveladores, a lenda em torno do homem mais rápido da história só fica maior.
Com Bolt, porém, o raio parece que caiu num único lugar e ali ficou. Desde 2008 que o jamaicano é o grande ícone mundial do esporte. Numa era em que a informação é transmitida rapidamente, a velocidade com que se formou o mito em torno de Bolt parece ser ainda mais rápida do que ele.
Na semana passada, a vitória nos 100m foi exibida ao vivo em TV aberta no Brasil e na Alemanha, além de diversas outras emissoras mundo adentro. Por aqui, Bolt ''herdou'' os 9 pontos no Ibope que o programa ''Esquenta'' vinha tendo. Ao todo, cerca de 1,5 milhão de pessoas acompanhou os 9s77 que ele demorou para percorrer os 100m e faturar o ouro. Já na Alemanha o jamaicano atraiu 4,62 milhões de telespectadores, enquanto na Inglaterra 4,3 milhões ligaram na BBC para acompanhar ''a lenda''.
Em resumo, Bolt atraiu mais de 10 milhões de pessoas em três das seis maiores economias do mundo.
Naturalmente quem consegue mexer com tanta gente consegue também faturar bastante. De acordo com o último levantamento da revista Forbes das maiores fortunas do esporte, Bolt aparece na ''modesta'' 40ª posição, com um faturamento de US$ 24,2 milhões no ano.
Quando acompanhamos os números com a lupa, o desempenho do homem mais veloz do mundo impressiona. Bolt conseguiu colocar-se na lista dos mais bem pagos em meio a nomes consagrados de esportes em que o dinheiro movimentado é extremamente superior ao do atletismo. Bolt não recebe salário de um clube e, também, fatura muito pouco em premiação. Só para se ter uma ideia, o jamaicano ganhou míseros US$ 200 mil em prêmios no último ano. Dono da maior fortuna do esporte, Tiger Woods recebeu em prêmios US$ 13,1 milhões. O segundo atleta mais bem pago, Roger Federer, do tênis, faturou US$ 6,5 mi com premiações.
Bolt conseguiu somar US$ 24 milhões em patrocínio. Nessa lista, segundo a Forbes, ele salta de 40° para o oitavo atleta mais bem pago do mundo. O que condiz muito mais com a capacidade que o jamaicano tem de engajar as pessoas e levá-las, assim, a consumir um determinado produto ou uma determinada marca. Na proporção, ninguém fatura tanto com publicidade quanto Bolt dentro do esporte.
Daqui até 2016, dificilmente surgirá um outro nome comercialmente tão forte quanto o velocista jamaicano.
O segredo do sucesso, além da performance, é a forma natural como Bolt parece tratar o fato de ser uma lenda, alcunha que ele mesmo pediu para ser dada. Prova disso foi a atitude do campeão em Moscou. Ao ganhar o inédito tricampeonato nos 200m, Bolt sacou uma câmera da Samsung e tirou foto do segundo colocado, o também jamaicano Warren Weir. Naturalmente o gesto foi reproduzido no mundo todo, deixando os coreanos patrocinadores de Bolt felizes da vida com a emboscada protagonizada em cima da Canon, que patrocinava o Mundial de Atletismo.
Além de saber como dar retorno ao patrocinador, Bolt consegue reunir outra característica muito em falta hoje no esporte, que é a performance fora do campo de atuação. Hoje, no mercado, provavelmente apenas Novak Djokovic, do tênis, consiga ser tão carismático quanto ele. Uma boa prova disso segue abaixo, na campanha gravada para a Virgin Media antes das Olimpíadas de 2012.
Depois da Copa do Mundo de 2014 será a vez de o raio desembarcar na mídia brasileira.