É possível esperar uma mudança na gestão esportiva no Brasil?
Erich Beting
Na semana passada, o Senado aprovou a Medida Provisória que promete deixar a rédea mais curta para quem quiser ter verba pública no esporte brasileiro (o que atinge quase que a totalidade dos esportes). Fim de reeleições infinitas e a obrigatoriedade de transparência no uso dos gastos do dinheiro público são algumas das importantes transformações que a MP traz.
Mas será que é possível esperar uma mudança na gestão esportiva no Brasil a partir dela?
Há dez anos já existe uma lei que permite responsabilizar os maus gestores no esporte. Até hoje, apenas dois dirigentes foram afastados ainda durante seus mandatos e tiveram de devolver dinheiro às entidades que representavam por conta disso.
O fato é que não é por força de lei que se consegue fazer com que haja de fato uma mudança na gestão esportiva no Brasil. Fico, nessa hora, com a frase de Gustavo Kuerten, um dos principais porta-bandeiras da MP, quando questionado sobre a aprovação.
''Ainda é triste ver um país que precisa de tantas leis para regular uma coisa que deveria ser óbvia, que é a administração com seriedade''.
Guga é perfeito na análise. É ridículo termos de criar mecanismos legais para evitar a dilaceração de patrimônios por má gestão, para ficar no que seria o menor dos problemas, que é a incompetência, e não a má fé.
O maior legado que a Atletas Pela Cidadania pode fazer não é nem mesmo a lei específica para tentar melhorar a gestão esportiva no Brasil. Começamos a entrar numa era de seleção natural, em que o mau gestor é punido diretamente no desempenho esportivo.
O que mais podemos ganhar nessa discussão toda é uma geração de atletas de fato engajada e empenhada em exigir do empregador seriedade. Se como nação começamos a ser mais questionadores de uns tempos para cá, deu para perceber que para melhorar a qualidade na gestão esportiva, não é suficiente apenas uma nova legislação.
O trabalho paciente e intermitente da Atletas Pela Cidadania é que realmente ajuda a mudar a gestão do esporte no Brasil. A MP 620 pode vir a ser um meio legal de melhorar isso. Mas a lei só vai pegar pela perseverança da ONG e, talvez, isso faça com que a gestão comece a querer sair da inércia que se estabeleceu nos últimos 100 anos…