Ingresso barato é prejuízo real para um clube?
Erich Beting
No início da semana publiquei aqui o resultado da ação de ''queima de estoque'' adotada pelo São Paulo nos ingressos para os jogos no Morumbi. O resultado de aumento do faturamento em R$ 1 milhão (leia aqui) gerou uma boa discussão sobre se a atitude foi completamente correta ou não.
Em tese, o argumento contra o preço de ingresso muito baixo é de que isso denigre a imagem do clube e do espetáculo. Como ponderei no post de segunda, há uma enorme justificativa para a ação pontual do São Paulo. Com o time na zona de rebaixamento e jogando mal, o valor do produto que ele oferece ao torcedor não pode ser alto. Daí o fato de o clube ter encontrado um ''preço-ótimo'' ao fazer o ingresso mais barato a R$ 10. O mesmo não se aplica ao Cruzeiro, líder do campeonato e próximo do título. Para o torcedor, o interesse em ir aos jogos é maior, o que faz o preço poder ser maior também.
É tudo questão da básica lei de ''oferta e procura'' que rege o mercado desde o tempo do escambo.
Mas há outro ponto que parece ter se tornado um mantra para os teóricos de marketing esportivo no Brasil. Há quase uma certeza de que o ingresso baixo vai gerar um tremendo prejuízo na imagem do clube. Essa tese vira verdade absoluta quando se refere a um clube de grande torcida do Brasil. Só que será que isso é verdade?
Para ficar no exemplo do São Paulo, que voltou à zona do rebaixamento nesta semana. O que é mais prejudicial para o clube. Encher o estádio com o torcedor pagando pouco pelo ingresso neste ano ou o time jogar a Série B em 2014?
Para o torcedor, não há bem mais valioso do que o próprio clube. Para o patrocinador, é muito, mas muito mais interessante, ver o time jogando com a casa cheia, com a TV aberta mostrando e, logicamente, contra os principais times de maior torcida.
O valor do ingresso, nesse cenário, é o que menos importa. Ainda mais quando o futebol no Brasil ainda vive uma era paleozoica, em que os clubes pouco trabalham o fortalecimento de suas marcas e os patrocinadores buscam muito mais exposição de marca do que propriamente criação de relacionamento duradouro com o fã.
No futuro, sem dúvida, deverá existir uma preocupação em valorizar o produto do futebol como um todo. Isso passa por uso mais racional do dinheiro, pela melhoria na qualidade dos estádios, na qualidade dos atletas, na qualidade do jogo, etc. Até lá, ingresso mais barato é um caminho para o clube faturar mais.
O que o futebol no Brasil precisa parar de fazer é tentar vender carro usado a preço de zero quilômetro.