Negócios do Esporte

Ronaldo, um homem de (muitos) negócios

Erich Beting

Ronaldo voltou a dar as caras, ou pelo menos as letras, neste final de semana. Assinou mais um artigo na ''Folha de São Paulo'' sobre a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. E, mais uma vez, mostrou maestria como um homem de negócios. Ou melhor. De muitos negócios. Algo que, aos poucos, vai minando toda a credibilidade que ele havia conseguido com a bola nos pés.

Como mesmo gostou de frisar na abertura de seu texto, há cinco meses Ronaldo mora em Londres. E ele usou a capital inglesa como exemplo em seu texto para falar sobre o legado dos Jogos Olímpicos. Frisou o quanto a área leste da cidade se desenvolveu após as Olimpíadas, que foram usadas exatamente para ''justificar'' o uso de alguns bilhões de libras do cofre público na preparação da cidade para o evento:

''Mas o que gosto de notar é como a Olimpíada, para os londrinos, não terminou com o fim da competição. Para os moradores da zona leste ou para os britânicos que viram 29 medalhas de ouro serem conquistadas, Londres 2012 foi apenas o começo daquilo que fica após os dias de evento, o corre-corre de jornalistas e a festa nas ruas com bandeiras de todas as cores –o tão falado legado.
Olhando para o nosso país, acho que precisamos rever a ideia de que a Copa do Mundo no Brasil é aonde queremos chegar –o destino de uma jornada''.

Agora só faltam nove meses para o Brasil parir a Copa.

As ''descobertas'' que Ronaldo teve ao morar por cinco meses em Londres soam como mais uma tremenda piada de mau gosto daqueles que teoricamente são os líderes do processo do evento no país. É impossível que uma pessoa que há mais de 20 anos trabalha com o esporte nunca tenha se atentado a isso, que uma Copa não é o fim, mas o meio. Ou, pior, é pavoroso pensar que há três anos Ronaldo passou a ser membro do COL sem ao menos saber o que significa para o país o evento.

Como também é mais uma vez detestável a propaganda nada velada à Ambev ao final do texto, ao teimar com a estúpida campanha ''Imagina'', aquela que criticava os ''pessimistas de plantão'' e mandava o torcedor imaginar o congestionamento de  trios elétricos e, claro, a festa que está programada para junho/julho de 2014. Propaganda tão desastrosa que quase virou ''verdade'' durante os protestos pré-Copa das Confederações, com as pessoas indo às ruas, mas por motivos beeeem diferentes daquele planejado pelos otimistas de plantão.

Pelo menos fica claro que Ronaldo está aproveitando bastante o tempo em Londres. A ponto de não acompanhar o noticiário esportivo no país. Afinal, a classe a qual ele pertenceu, hoje, mostra claramente o que pensa sobre os rumos que o futebol tem tomado no Brasil.

A reunião desta segunda-feira entre o grupo do ''Bom Senso FC'' e a CBF é só mais um indício de como a Copa não é o ''destino da nossa jornada''…

Imagine depois da Copa?