Negócios do Esporte

NBA prova que público para bom evento existe no esporte

Erich Beting

A pergunta veio para mim pelo perfil no Twitter, ainda no começo de Chicago Bulls x Washington Wizards: ''O fiasco do público do jogo da NBA no Rio seria erro de precificação?''. Tinha programado tirar o sábado de folga, mas não deu para controlar a vontade de ligar a TV e tentar ver o tal ''fiasco'' do público.

Claramente havia alguns buracos nas cadeiras do HSBC Arena, mas nada que chamasse muito a atenção. Pelo contrário, a sensação que tinha era a de que havia muita gente, sim, presente no ginásio. Enquanto o Twitter pegava fogo num debate, voltei para a folga e esperei a segunda-feira para estudar um pouco mais o tema e tentar analisar com mais frieza o que foi a primeira vez da NBA no Brasil.

O fato é que o Brasil, dos seis jogos já disputados até agora por times da NBA fora dos Estados Unidos, foi o segundo país a levar mais gente para um ginásio e, na proporção, o que mais ocupou o ginásio (detalhes aqui). Foram 13.635 torcedores para 14.000 ingressos colocados à venda no ginásio na Barra da Tijuca (97,4% de aproveitamento do espaço). Só o jogo realizado em Taipei, na China, atraiu mais gente até agora (13.686 pessoas foram ontem acompanhar o Houston bater o Indiana Pacers), mas o ginásio local era um pouco maior, com capacidade para 15.082 pessoas (a ocupação lá foi de 90,7%).

Como já havia dito aqui na sexta-feira, a NBA deu uma aula de como promover um evento para o público. Mais do que a semana de ações, a liga já havia tratado de ''desembarcar'' no Rio de Janeiro no final de agosto, quando promoveu um evento no Parque de Madureira, num campeonato de 3 contra 3 durante um final de semana.

O evento no HSBC Arena foi o ''grand finale'' de um ano repleto de ações da NBA por aqui. Durante todo o ano, o torcedor brasileiro teve contato com a liga de alguma forma. Seja em eventos para o torcedor (o torneio de 3 contra 3 ocorreu, no primeiro semestre, em São Paulo), seja por meio de ações promocionais de parceiros comerciais, seja por meio de promoções online.

Mas, mais do que mostrar que é preciso um trabalho constante de promoção do espetáculo para estar perto do público, a NBA prova que, para levar gente a evento, é preciso que ele seja, antes de mais nada, bom. Os ingressos para o jogo-exibição por aqui eram altíssimos (de R$ 180 a R$ 2.000). Mesmo assim, o ginásio lotou.

O fã do basquete vai provavelmente começar a poupar agora o dinheiro para acompanhar mais uma partida da liga no ano que vem. Por mais caro que seja o ingresso, na cabeça do torcedor o preço empregado nele vale a pena.

Não é somente a qualidade da arena esportiva que vai determinar o preço do ingresso, mas sobretudo a qualidade do produto que será exibido ali. É isso que falta ao futebol brasileiro hoje perceber. Não serão apenas os novos estádios que trarão um aumento de receita para os clubes. É preciso, urgentemente, melhorar o produto. Essa foi a mudança provocada pela Inglaterra nos anos 90 e, recentemente, pela Alemanha, e que explica boa parte do sucesso desses dois países na gestão de público nos estádios. Nos Estados Unidos, esse conceito existe desde que o primeiro jogador rebateu uma bola de beisebol.

Público consumidor de esporte sempre vai existir. Mas para isso, é preciso saber encontrar a relação custo-benefício. Hoje, e a venda de ingressos para a Copa e para o jogo da NBA estão aí para provar, querer cobrar muito para um produto ruim é pedir para não ganhar dinheiro com ingressos.