Americanos vêm ao Brasil para fazer da MLS melhor liga do mundo. Em 2022!
Erich Beting
Na última semana, um grupo de executivos da Major League Soccer (MLS) esteve durante dois dias no Brasil para fazer visita a alguns veículos de mídia e conversar com algumas pessoas da indústria do esporte no país. Em pauta, os planos da MLS para o futuro e, mais do que isso, a abertura de canais de comunicação do futebol jogado nos Estados Unidos com o Brasil.
Tudo isso tem um claro objetivo: em 2022, a MLS quer se tornar a melhor, ou pelo menos uma das melhores, liga de futebol do mundo.
Além do pessoal de relações públicas da MLS, estava presente Jeff Agoos. O nome, para quem já passou dos 25, não é de se estranhar. Agoos era jogador da seleção americana nas Copas de 1998 e 2002. Depois de ''debutar'' na MLS em 1996, seguiu carreira nos Estados Unidos até encerrá-la, em 2005. Desde então, ele atuou em cargos técnicos no New York Red Bull e, desde 2011, é diretor técnico da MLS.
Na conversa que o blog teve com o agora executivo, ele disse que a vinda ao Brasil tem uma missão de abrir caminho para a chegada, em 2014, do time de futebol dos Estados Unidos que disputará a Copa do Mundo. Mas, além disso, a ideia é saber qual o posicionamento que a MLS tem no mercado brasileiro e de que forma ela pode se tornar mais conhecida por aqui.
A promoção internacional da MLS é um dos pilares que sustentam o projeto de crescimento e fortalecimento da liga. Segundo Agoos, para chegar em 2022 como uma das maiores do mundo, a liga americana precisa de quatro itens, fundamentalmente:
1 – Qualidade dos jogadores
2 – Paixão e engajamento dos torcedores
3 – Relevância para o mercado (mídia, entidades políticas e patrocinadores)
4 – Valor da empresa
Hoje, a MLS trabalha nessas quatro frentes. Os quatro pilares que são estratégicos para os americanos são esses. Para que a liga seja considerada forte, é preciso ter bons jogadores, os clubes serem competitivos e a liga ter qualidade igual ou superior às grandes do exterior.
Além disso, é preciso que os clubes consigam engajar os torcedores, fazê-los comparecer aos jogos, comprar produtos oficiais, pacotes de transmissão pela TV e internet, buscar se conectar o tempo inteiro com o time.
Paralelamente a tudo isso, a MLS precisa ser relevante. A televisão precisa querer mostrar as partidas, os jornais e os veículos de internet têm de cobrir o dia-a-dia dos clubes e dos atletas e, também, as cidades e os políticos têm de demonstrar interesse em ter o clube na sua região.
Por fim, outra forma de valorizar a MLS é fazer com que os clubes sejam valiosos. E aí a questão é grana mesmo. Na MLS, assim como nas demais ligas profissionais americanas, o dono dos times é a liga. Os clubes funcionam como uma espécie de ''cota''. O cara, quando compra o clube, tem o direito de ser o representante dele. Ele se torna, então, um sócio da MLS.
Agoos usa alguns exemplos para explicar os quatro pilares. Hoje, a MLS começa a ter jogadores de renome internacional atuando nos seus times. David Beckham é sempre o exemplo mais estrelar, mas o executivo lembrou também que boa parte do time dos Estados Unidos que se classificou com sobras para a Copa do Mundo atua no país. A ideia, agora, é buscar estrangeiros.
Nacionalmente, nunca a mídia deu tanta bola para o soccer jogado na Terra do Tio Sam. Além disso, a transmissão internacional tem crescido ano a ano. O Brasil é citado como exemplo por Jeff, que classifica a eminente entrada do Orlando City, de propriedade de um brasileiro, como mais um motivo para o país se interessar pela MLS.
Por fim, dois dados são colocados como sintomáticos pelo executivo para explicar o sucesso do modelo de negócios da MLS. O primeiro é a mobilização da comunidade de Orlando nos últimos meses para aprovar um financiamento para a construção do estádio em que o Orlando City mandará suas partidas. Já dentro dos padrões da MLS, ele foi a ''senha'' para que o clube em breve faça parte da liga. O outro é o preço pago pela franquia de Nova York, que incorporará à liga no ano que vem: US$ 100 milhões. Em 1995, os donos dos clubes pagaram US$ 5 milhões para ter a licença.
''A NFL, nos anos 70, tinha um valor de mercado de US$ 200 milhões. Hoje, já está em alguns bilhões'', cita Jeff Agoos, mostrando claramente quem é o modelo para que a MLS consiga atingir seus objetivos.
Sim, ainda estamos falando de futebol. A receita para que os americanos, em 10 anos, se tornem donos da liga mais poderosa do mundo está colocada à mesa. Às claras. Com objetivos bem definidos, que mesclam um bom negócio com entretenimento para os torcedores.
Depois de desligar o telefone com o executivo, fiquei com aquela pergunta na cabeça.
''Se alguém quiser conversar sobre o Campeonato Brasileiro e sua promoção no exterior, com quem devemos falar''? Há dois anos, desde a implosão do Clube dos 13 (que já não era o melhor dos mundos, diga-se de passagem), não existe um representante que possa pensar no Brasileirão como um todo.
Pelo visto, daqui a dez anos vamos ter de mandar um representante brasileiro para os Estados Unidos para aprender como gerenciar e recuperar a imagem do nosso futebol…