Nissan dá o exemplo; restam os outros seguirem
Erich Beting
Um comunicado distribuído à imprensa no final da tarde desta segunda-feira, pós-decisão do STJD, colocou mais lenha no debate sobre a involução do futebol brasileiro. A fabricante de automóveis Nissan decidiu retirar o patrocínio ao Vasco. Na nota, a montadora justifica o ato pelas cenas de selvageria proporcionadas pelos torcedores vascaínos na última rodada do Campeonato Brasileiro, que decretou a queda do clube à Série B.
''A direção da Nissan considera que os referidos atos de violência são incompatíveis com os valores e princípios sustentados e defendidos pela empresa em todo o mundo'', dizia parte do comunicado.
Esse talvez tenha sido o ato mais exemplar que uma empresa já deu para o futebol brasileiro. Muitas outras marcas já deixaram o futebol tendo motivos de sobra para tal. Mas nenhuma, antes, colocou tanto o dedo na ferida.
No momento em que mais se previa que o futebol no Brasil transbordasse em dinheiro, o que se observa é um movimento oposto. Sim, as receitas aumentaram, mas num crescimento quase inercial, pelas renovações dos contratos de TV e de fornecimento de material esportivo, turbinadas por concorrência. Os clubes pouco ou quase nada fizeram para merecer novos contratos e mais receita.
Pior ainda, os desmandos de fora de campo levaram a uma situação de insatisfação tremenda. Jogadores protestam, torcedores reclamam, brigões pulam pelas arquibancadas, advogados surgem ao final da história em busca de um ''grand finale''.
A sensação que se tem é de que voltamos aos anos 80/90. Involuímos, em questão de cinco anos, para patamares de 15/20 anos atrás. Com mais dinheiro, mas igualmente sem saber o que fazer com ele.
Por isso, a decisão da Nissan de deixar o Vasco dá a medida certa do que é o momento atual do futebol no Brasil. A meio ano da Copa, é inseguro, para uma marca, se associar ao esporte. Não por acaso, os patrocínios ficam centrados no que é ''seguro''. A seleção brasileira e o Mundial.
Ao explicar que deixou o Vasco pela briga da torcida, a Nissan dá a medida do que exige de quem é patrocinado. Seriedade e profissionalismo devem pautar o trabalho do clube na relação com o patrocinador e no comportamento dentro e fora de campo.
Com o futebol sendo um investimento cada vez mais alto para as marcas, é fundamental que os clubes profissionalizem suas gestões. Continuar no estágio semiprofissional de hoje é metade do caminho para que as marcas deixem de investir.
A grande diferença do que fez a Nissan agora daquilo que diversas outras marcas fizeram em 2001, primeiro ano após a malfadada Copa João Havelange, foi explicar claramente o motivo da sua saída. Até porque, na Série B, a chance de a empresa ter mais visibilidade e ampliar o relacionamento com o torcedor vascaíno pelo Brasil fazia do patrocínio um negócio até melhor do que foi neste ano.
Se a moda pega, vai sobrar espaço nas camisas para os próximos anos…