Negócios do Esporte

Fifa tenta apertar o controle sobre transferências

Erich Beting

A Fifa divulgou no início desta quarta-feira o seu relatório anual de transferências de atletas. O resumo da ópera é o seguinte: em 2013, foram 12.309 transferências internacionais de jogadores, que movimentaram US$ 3,7 bilhões. Nesses negócios, as comissões pagas a intermediários dos negócios somaram US$ 216 milhões.

A divulgação dos números, coincidentemente um dia após o pai de Neymar ir à ESPN tentar explicar a inexplicável equação da transferência do jogador do Santos para o Barcelona, faz parte de um trabalho cada vez maior da Fifa para tentar impedir casos como o que envolveu o atleta brasileiro.

Desde 2007, a Fifa criou uma empresa que é responsável pela fiscalização de todas as transferências internacionais de jogadores. Como a entidade é quem valida essas transações, ela passou a fazer um controle mais rígido sobre os negócios. A ideia é, entre outras coisas, começar a reduzir um dos grandes problemas que existem na transferência de atletas, que é, como prova o caso de Neymar, o pagamento a terceiros de somas vultuosas de dinheiro sem o devido registro disso. Afinal, pensando com a cabeça da entidade que é responsável pelo futebol, não faz sentido um dinheiro sair de um clube e ir parar na mão de alguém que não reinvestirá essa grana no desenvolvimento do esporte. Isso, no médio e longo prazo, joga contra o próprio futuro da modalidade.

Por conta dessas e de outros fatores, a Fifa tem estudado, sistematicamente, a transferência de jogadores pelo mundo. Mais do que isso, a entidade estuda um meio de controlar de forma ainda mais precisa o que entra e o que sai na ida e vinda de um atleta de um clube a outro. Até mesmo parceiros comerciais foram chamados nos últimos tempos para conversar sobre o tema. A ideia é usar o conhecimento de algumas empresas em organizar transações para que se regulamente ainda mais qualquer transferência.

Mas o caso de Neymar ilustra bem como o controle é muito falho, por mais que ele tente ser melhorado. Quando o presidente de um clube aceita pagar 40 milhões de euros por fora para assegurar que terá um atleta, não há controle de transferência que faça esse negócio ser regulamentado. Por mais legal que ele seja, é amoral. E não haverá software capaz de garantir que isso não aconteça.

Só para se ter uma ideia, a ''indenização'' paga a Neymar pai pela saída do seu filho para o Barcelona representa 25% de todo o montante registrado como intermediação de negócio em mais de 12 mil transferências!

Não por acaso, a negociação de jogadores é hoje um dos negócios mais lucrativos do mundo, tanto que há diversos fundos de investimento criados com esse propósito. Por mais controle que a Fifa tente fazer sobre isso, a solução só vira quando os clubes estiverem profissionalizados num nível que não permita a transação de atletas fora de um ''marco regulatório'' universal.