Negócios do Esporte

As arenas precisam arejar as cabeças para vingar

Erich Beting

''Isso é problema nosso, não é de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul (sic). É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte (…) nós teremos competência para dar um legado. E você acha um legado o Maracanã botar 300 pessoas para assistir a um jogo?''.

O autor da frase é Omar Aziz, governador do Amazonas, quando foi questionado por um repórter da ESPN sobre a viabilidade pós-Copa da Arena Amazônia (a reportagem completa do UOL sobre o caso está aqui).

A frase de Aziz é perfeita para resumir o grande entrave para o futuro das 14 arenas que estarão prontas até o final do ano no país (as 12 da Copa, a do Grêmio, já inaugurada, e a do Palmeiras, que deve ficar pronta até agosto).

Enquanto a cabeça de quem comanda o estádio estiver nas práticas do passado, pouca coisa vai melhorar na gestão dos espaços. Quando o governador do Amazonas diz que ter capacidade para construir um estádio basta para saber o que fazer com ele, fica clara a total falta de argumento que existe para cuidar da gestão do espaço. É de interesse público, até porque foi com verba pública que o estádio ficou pronto, saber como se pretende viabilizar um aparato desse tamanho.

A alfinetada que Aziz dá sobre o público de pouco mais de 300 pagantes em jogo do Flamengo pelo Cariocão Guaraviton também mostra que não basta ter um novo e moderno estádio para atrair pessoas para ele.

No ano passado, quando publicou a lista dos clubes mais ricos do mundo, a consultoria Deloitte fez uma ressalva. Para os ingleses que cuidam do estudo anual, os clubes do Brasil e da Rússia deveriam, em breve, começar a figurar mais próximos do top 20 do ranking. O motivo: os novos estádios erguidos para as Copas tanto de 2014 quanto de 2018.

O grande problema que os consultores não conseguiram perceber é que a realidade europeia não pode ser adaptada diretamente por aqui. Nesse caso, princialmente pela falta de novos ares na cabeça de quem está no topo da pirâmide dos estádios. Enquanto continuar sob a batuta de um governador de estado um estádio, ou então num dirigente centralizador e populista, ou nos mesmos dirigentes de sempre, as coisas não vão engrenar.

Os novos estádios não conseguirão mudar o perfil de público e principalmente a taxa de ocupação se continuarem com o mesmo estilo de operação dos últimos 20/30 anos no futebol. Enquanto não se colocar o torcedor como prioridade na lista de ações, a demanda pelos estádios seguirá a equação de importância do jogo, como bem mostra a recente partida do Flamengo pelo Estadual e a também recente decisão da Copa Perdigão do Brasil de 2013, que teve quase R$ 10 milhões de renda bruta.

As arenas precisam arejas as cabeças de quem as comanda para vingarem. Se não, continuaremos a ter sapato velho vendido apenas numa caixa de sapatos nova.