A função básica dos Estaduais é gerar crises
Erich Beting
Para que servem os campeonatos estaduais? A pergunta é corriqueiramente feita, ainda mais quando o cenário que se formou no Rio de Janeiro e em São Paulo volta a aparecer, com a eliminação precoce de times de grande torcida. Do jeito que está o futebol hoje, a função básica dos campeonatos estaduais é gerar crises nos grandes clubes.
''Obrigados'' a ganharem o torneio, ou pelo menos a chegarem até a decisão, os times de maior torcida não podem falhar nos Estaduais. Do contrário, tudo vira motivo para crise. No caso do Botafogo, há o atenuante de que o time ainda disputa a Copa Bridgestone Libertadores e, por isso, deixa as atenções focadas na competição continental. Já no caso do Corinthians, a queda precoce no Paulistão Chevrolet é o agravamento de uma crise que se estende há alguns meses e parece um buraco sem fim.
Aberração do calendário desde que o Brasileirão passou a ser jogado por pontos corridos, o Estadual passou a ser o estorvo para os grandes clubes. Se ganham, não fizeram mais do que a obrigação. Quando perdem, a paz termina.
Um dos resultados que deixam claro o desinteresse pelo Estadual está na média de audiência dos jogos do Paulistão, estacionada na base dos 15 pontos na Globo e 5 pontos na Band há pelo menos três anos. O Ibope não aumenta, a não ser nos jogos entre os grandes e na reta decisiva. A fase de classificação, portanto, serve apenas como geradora de problemas para os clubes quando não acontece o óbvio.
Nesta segunda-feira, o Bom Senso FC deu mais uma vez as caras. Apresentou o projeto de calendário e de proposta para racionalização dos gastos dos clubes. Como os próprios atletas fizeram questão de enfatizar, as propostas estão longe de serem soluções definitivas, mas são formas de se pensar em alternativas com base no modelo atual.
Modelo que, convenhamos, funciona na base do ''pior que está, não fica''. E que, por isso mesmo, transformou os Estaduais em risco à integridade física dos clubes. Sem outra alternativa de notícias, a imprensa coloca no torneio local uma importância injustificável. Isso infla a torcida a cobrar do time ainda em começo de temporada um desempenho de reta final.
As crises causadas pelos Estaduais são inócuas. Os torneios, por força do concorrido calendário de jogos do país, não servem para determinar o quão preparado um clube está para o restante da temporada. Vitórias mascaram, enquanto derrotas sangram mais do que deveriam.
O que ainda sustenta os torneios estaduais é a polpuda verba que os clubes recebem da TV, especialmente em São Paulo. A cota de participação dos quatro principais times do estado é a maior paga para eles disputarem qualquer outra competição. Supera até mesmo a do Mundial de Clubes da Fifa. Com tanto dinheiro, é ''irrecusável'' para o clube lutar pelo enxugamento do Paulistão.
Daqui a pouco, porém, a conta vai ficar mais salgada. Se o Estadual servir apenas para conturbar o ambiente, a saída será imitar Inter e Atlético-PR, que já há algum tempo abandonaram os torneios locais. Se ganhar, ninguém reclama. Se perder, também não.
A ideia de um Estadual em pouquíssimas datas para os grandes é a solução mais correta para o bem estar do futebol. Apenas os fanáticos têm hoje se interessado pela competição…