O caso Suárez explicita a diferença entre Adidas e Nike
Erich Beting
''A adidas aprova a decisão da FIFA e condena o ato recente do jogador Luis Suárez. A companhia não tem mais previstas ações de marketing com o jogador durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e reforçará com ele e todos os seus atletas o bom comportamento e conduta que espera deles. A adidas vai rever os planos futuros com o jogador e discutir os aspectos da continuidade da parceria diretamente com ele e sua equipe''.
Esse é o curto pronunciamento feito pela Adidas a respeito da punição dada pela Fifa ao atacante uruguaio Luis Suárez, alijado da Copa após morder um adversário. Nele, a empresa deixa claro o descontentamento com a atitude nada correta de seu patrocinado e apoia a decisão da entidade que também é patrocinada por ela.
Mas, mais do que isso, o comportamento da Adidas no caso mostra como a visão da marca é antagônica a de seu maior concorrente, a americana Nike. O caso de Suárez é muito menos delicado que o protagonizado pelo francês Eric Cantona, em 1995, quando ele atingiu com uma voadora um torcedor que o xingava ao ser substituído em partida da Premier League da Inglaterra.
Cantona ficou fora durante quase um ano, suspenso das competições. Nesse período, massacrado pela opinião pública, continuava a ter o contrato com a Nike em dia e também com o Manchester United, seu clube. No ano seguinte, o bad boy francês era o protagonista da campanha mundial da fabricante de material esportivo chamada ''O Bem contra o Mal''. Ele tinha Ronaldo, então despontando no Barcelona, como coadjuvante na peça publicitária.
A relação da Nike com Cantona não só prosseguiu como se intensificou. Até hoje, ele é uma espécie de embaixador mundial da marca nas campanhas publicitárias. A fama de mau só o ajudou nessa relação.
O ''azar'' de Suárez, nesse caso, é ter o patrocínio da Adidas. A marca alemã sempre se identifica pela discrição no relacionamento com seus atletas patrocinados. Em vez da polêmica, a fabricante prefere aparecer apenas pela boa performance esportiva. É por isso mesmo que a Adidas prefere Lionel Messi a Cristiano Ronaldo, o grande patrocinado da Nike nesta Copa.
A diferença nos estilos se explica. A Nike surgiu no mercado no começo dos anos 70, bem depois da Adidas, que até então era líder absoluta nos artigos esportivos. Justamente no período em que o esporte como negócio se desenvolve, a marca alemã reinava. A Nike, então, assumiu para si a condição de ''irmã mais nova'' da relação das empresas de material esportivo com a indústria do esporte. Com o espaço ocupado pelo mais velho, coube a ela adotar uma comunicação agressiva. Para chamar a atenção, chocar, se fazer presente.
Deu certo, tanto que hoje a Nike é a líder de mercado em quase todas as categorias. O futebol é o mercado que ainda falta dominar, mas que está cada vez mais numa briga cabeça a cabeça. Ou dentada a dentada.
Se Suárez fosse um atleta da Nike, possivelmente a marca divulgaria um comercial fantasiando-o de vampiro no próximo feriado americano do Halloween. Como é bem capaz que o contrato com a Adidas não seja renovado, seria uma forma perfeita de a Nike anunciar seu novo patrocinado. Será nessa mesma época que a punição de quatro meses do futebol estará vencendo…