Negócios do Esporte

A Copa que nos apresentou para o futebol

Erich Beting

Havia duas incertezas muito grandes para mim antes do início da Copa.

A primeira, que não era só minha, era a nossa real capacidade de realização do evento. Nossa história sempre foi baseada no improviso. É cultura brasileira. É acreditar, e trabalhar para que ''no fim dê tudo certo''. Confesso que tinha muito receio, com base no que vivenciei na Alemanha, em 2006, e na África, em 2010, de que fosse ser possível fazer tudo correr bem mesmo sem estar 100% preparado e ajustado para receber o Mundial.

Mais uma vez, nossa habilidade em improvisar foi colocada à prova. E passamos no teste com louvor!

A outra dúvida era com relação ao comportamento do público durante o evento. Achava, e aí era achismo puro, que o brasileiro não se empolgaria tanto pelo evento. Somos, também culturalmente, mais propensos a gostar da Copa do Mundo enquanto o Brasil faz parte dela. Quando não jogamos, também não acompanhamos o torneio. O brasileiro, afinal, gosta mais do Brasil que do futebol.

Nesse caso, a surpresa foi muito, mas muito mais positiva. A Copa do Mundo, afinal, nos ajudou a apresentar para o futebol. A facilidade de acesso da mídia às seleções ajudou muito nisso. Com equipes muito maiores, nossos veículos foram buscar histórias que iam além do que apenas a rotina maçante da ''empolgante'' seleção brasileira em Teresópolis. Foi uma das primeiras vezes em que tivemos jornalistas acompanhando todas, ou quase todas, equipes.

Isso ajudou, e muito, para que a audiência da Copa na TV crescesse como nunca. O Mundial de 2014 foi um dos que apresentou os melhores índices de audiência nos jogos em que o Brasil não estava em campo.

Essa situação nos leva a um grande aprendizado para o futebol que segue depois da Copa. Interesse em consumir o futebol existe, desde que não seja dada ao consumidor meia dúzia de opções.

No fim das contas, quebrei a cara com as duas grandes dúvidas que tinha. Ainda bem! A Copa do Mundo foi espetacular em diversos sentidos. Problemas existiram, é claro, mas o evento em si superou as expectativas. O clima contagiante seguiu até mesmo após o encerramento do jogo que consagrou a Alemanha, pelas ruas do Rio de Janeiro tomado por argentinos, alemães e bralemães.

Esse é o grande barato do futebol. Poder torcer não apenas pelo seu time, mas pelo jogo bem jogado.

Garantir uma grande cobertura de mídia e o interesse do público num evento que não seja a Copa do Mundo é o próximo grande desafio do Brasil. É parte da nossa lista de tarefas para fazer o futebol voltar a ser motivo de orgulho, e não apenas receber um bom evento de futebol.