NFL chega ao recorde de US$ 7 bilhões com TV
Erich Beting
Quando os clubes brasileiros, iludidos com a ideia de que faturavam mais de TV se negociassem sozinhos, resolveram romper com o Clube dos 13, o blog tentou argumentar que mundialmente já havia ficado provado que o melhor meio de se negociar direitos de transmissão era coletivamente.
Os exemplos das Ligas Inglesa e Alemã de futebol, da NFL e da NBA mostram isso. A própria União Europeia, baseada no antigo modelo que havia no Brasil, recomendou e tornou obrigatório aos clubes vender coletivamente os direitos de transmissão. Isso, na visão da UE, reduziria o abismo financeiro entre equipes de diferentes tamanhos e, também, aumentaria o poder de barganha na negociação, seguindo o conceito básico de que, juntos, os times podem mais.
O Brasil, indo na contramão do esporte, fechou os direitos de forma individual. O argumento a favor era a grana nunca antes vista que seria paga pela Globo aos clubes. Hoje, somando-se os 20 contratos do Campeonato Brasileiro da Série A, o campeonato vale em torno de R$ 1 bilhão. Antes da negociação individual, os direitos estavam próximos dos R$ 500 milhões, com perspectiva para que fossem aos mesmos R$ 1 bi, só que pagos ao Clube dos 13 e então distribuídos para os clubes.
Nas próximas semanas, a NFL, maior liga esportiva do mundo, deve anunciar a renovação do acordo com a DirecTV para a transmissão de um pacote de jogos de domingo da temporada do futebol americano. O valor? US$ 1,3 bilhão por um ano de contrato.
Somando-se os demais acordos de mídia existentes, a NFL chegará ao recorde de faturamento de US$ 7 bilhões só com os direitos de transmissão. É, de longe, a liga que mais fatura com a venda de direitos de mídia.
Mas qual é o segredo do sucesso da NFL? Ele poderia ser aplicado no Brasil?
Em partes. O primeiro passo, que é a venda coletiva dos direitos, é absolutamente necessária. É fundamental que os clubes negociem coletivamente. Ou melhor, que a competição Série A do Campeonato Brasileiro possa negociar acordos de forma coletiva. Isso é que pode assegurar o sucesso de uma operação que eleve os valores da transmissão do futebol no país.
O segundo passo, esse mais complicado, é ter independência financeira suficiente para que as TVs sejam meras reprodutoras de conteúdo, e não produtoras dele. A NFL é quem produz as imagens que são exibidas pelas emissoras de TV. Isso dá mais liberdade para que as transmissões sejam comercializadas da maneira como a liga quiser. Para isso acontecer, é fundamental que os clubes estejam todos juntos do mesmo lado da mesa.
O terceiro passo, ainda mais difícil, é conseguir fatiar os direitos entre diferentes grupos e tipos de mídia. O mercado de TV, que é quem paga a maior parte da conta, é bem menos desenvolvido que o dos EUA. Sendo assim, não dá para imaginar que teríamos quase dez emissoras interessadas em comprar os principais direitos, como acontece com a NFL nos Estados Unidos. Mesmo assim, fatiar os direitos seria fundamental, pois abriria dois campos de negociação que hoje não existem: plataformas móveis (e aí entrariam as gigantes operadoras de telefonia celular na disputa) e internet (os portais possuem verba suficiente para gerarem até mais dinheiro que a TV fechada nesse embate).
É impossível ao futebol brasileiro atingir o patamar da NFL em termos de grana. Mas é possível fortalecer os clubes adotando a negociação coletiva e a produção própria do conteúdo. A liga de futebol americano precisa ser usada como exemplo para fortalecer o futebol no Brasil.
Para isso acontecer, porém, é preciso para o futebol deixar de olhar o próprio umbigo e de pensar com o sentimento clubístico. Só quando essa reforma de pensamento existir é que será possível pensar naqueles outros passos que fizeram da NFL a liga mais valiosa do mundo.