Futebol invade o cotidiano nos EUA. E agora?
Erich Beting
Fila de imigração no aeroporto JFK, em Nova York. O funcionário começa a rir quando digo que sou jornalista esportivo. E faz a piada: ''deve ter sido difícil na Copa do Mundo, hein?''. Na hora em que lembramos dos 7 a 1, ele faz novo gracejo: ''melhor pensar no tênis''. Já havia dito que estaria aqui para acompanhar algumas partidas do US Open, mas a associação que se faz do Brasil com o futebol é direta, como em qualquer outra parte do mundo.
A brincadeira do funcionário da imigração é um indício de que o futebol parece estar mais presente no cotidiano americano. Depois, nas ruas de Nova York, mais uma vez o soccer dá o ar da graça. Numa loja de esportes, a Puma coloca, bem na entrada, as novas camisas do Arsenal. As demais marcas contam com o tradicional. Camisas de basquete, tênis para corrida, etc. Na Puma, a melhor propriedade para ser exibida ao consumidor é a do time de futebol recém-contratado por ela.
Numa outra loja, de brinquedos, é a vez de New York Red Bull, New York City FC e Major League Soccer estamparem artigos infantis logo na entrada dos três andares do estabelecimento. Precisa estar ali na frente, para passar na cara de todo mundo e meio que já dizer o motivo pelo qual eles estão aí.
A presença mais sólida do futebol no cotidiano americano tem, aos poucos, mudado a relação das pessoas com o esporte. Na porta de bares, além dos anúncios de transmissão de eventos tipicamente americanos, como o beisebol, as partidas da Liga dos Campeões da Europa são destacadas. Da mesma forma, nas lojas de artigos esportivos, há um aumento da oferta de produtos ligados ao futebol.
Nova York será a primeira cidade a abrigar duas equipes da MLS, a liga de futebol. Em 2015, o NYCFC, espécie de franquia do Manchester City, passará a disputar a competição. No ano passado, a MLS teve média de 18.600 torcedores por partida, a terceira maior entre as ligas esportivas americanas, atrás apenas do futebol americano e do beisebol.
No Brasil, ainda debatemos qual time tem a maior torcida, sem nos darmos conta que o importante não é a quantidade, mas os hábitos desse torcedor com relação ao futebol. Nos EUA, sempre se trabalhou o futebol como o esporte para ser promovido no público latino para crescer.
Desde que a Premier League inglesa e a Liga dos Campeões da UEFA apresentaram um esporte de qualidade para os torcedores, a equação deixou de ser essa. Hoje, a MLS estuda cada vez mais como fazer para engajar os consumidores, sejam eles de origem latina ou genuinamente americanos. Não há uma preocupação em saber a base de fãs de um ou outro time, mas os meios de fazer com que a pessoa tenha mais interesse em consumir o futebol em vez dos outros esportes.
Dizer que prefere algum time de futebol é uma situação que não muda em nada a realidade do esporte. O que esse torcedor faz? Quais seus hábitos de consumo? O que o motiva a ligar a TV, ir a um estádio, comprar um pacote de pay-per-view ou um novo artigo licenciado? Essas perguntas já foram feitas lá atrás pelos gestores da MLS.
Agora, o futebol começa a invadir o cotidiano dos EUA, seja na fila de imigração do país, na disposição de artigos nas lojas ou na oferta de eventos dos bares para atrair consumidores. O futebol, por aqui, já pegou. E vai ficar ainda maior. No Brasil, infelizmente, parece que vamos fazer exatamente o caminho inverso…
* O blog viaja a convite da ESPN