Negócios do Esporte

Por que o Manchester ultrapassou Real e Barça entre os mais ricos

Erich Beting

O Barcelona quer rever seus contratos de patrocínio. A notícia (leia aqui) tem uma ligação direta com a perda da liderança que Barça e Real Madrid tiveram na lista dos clubes com maior faturamento do mundo. Em 2015, o Manchester United reassumirá o posto de clube que mais ganha dinheiro no futebol, graças aos novos contratos firmados com GM (já em vigor) e Adidas (a partir da próxima temporada).

A volta do Manchester à liderança revela a nova realidade do futebol na Europa. Até 2003, o clube inglês era, de fato, o único profissional no universo do futebol. Num processo iniciado cerca de dez anos antes, o Manchester foi o primeiro clube de futebol a se preocupar com um processo de internacionalização de marca, com a conquista de novos mercados, com o fechamento de acordos globais de patrocínio, etc.

Com a sorte de lapidar David Beckham, o United ganhou mercados e naturalmente tornou-se o número 1 em vendas. Os valores fechados em patrocínio, licenciamento e TV eram, com folgas, bem mais valiosos que os de outros clubes.

Aí Beckham foi para o Real Madrid, que iniciava naquele momento a fase final do projeto do time Galático. Embora tenha fracassado dentro de campo, a estratégia de contar com os jogadores mais populares de grandes mercados da bola deu resultado. Desde 2003, quando Beckham desembarcou em Madri, o Real é o time número 1 em faturamento. Na esteira do sucesso do Real, veio o Barcelona, primeiro com Ronaldinho e Eto'o, depois com Messi e cia. O clube se tornou forte no mundo todo e ficou ali, sempre em segundo lugar entre os mais ricos.

A resposta do Manchester, agora, está atrelada à mudança de patamar do futebol inglês em relação ao restante do mundo. Com uma liga forte, com os clubes trabalhando em conjunto e com um plano forte de expansão da Premier League para os Estados Unidos, o Manchester virou o jogo. Principal marca dentro do futebol local, embora não seja nem de perto o time mais forte em campo, o United pegou carona no sucesso de expansão da liga.

Fechou em valores astronômicos com a GM especialmente para trabalhar a marca no mercado americano, cada vez mais fanático pelo futebol inglês, e também em outros territórios onde o clube é forte (África do Sul, Índia e Brasil entre eles). Depois, fez um acordo histórico com a Adidas, também baseado na força de vendas do clube. Só para se ter uma ideia, enquanto deverá investir algo próximo de R$ 3 bilhões em dez anos de patrocínio, a fabricante espera ter um faturamento de R$ 6 bilhões em comercialização de produtos.

Enquanto isso, Barça e Real Madrid perderam força no mercado exatamente pelo enfraquecimento da Liga Espanhola. Não fosse o poder global da Liga dos Campeões da Europa, os dois clubes fatalmente estariam hoje com muito menos dinheiro. O problema para os próximos anos é que, enquanto a Inglaterra só melhora a qualidade do seu produto, os espanhóis vivem acumulando problemas com um campeonato nacional enfraquecido e com apenas dois clubes concentrando toda a verba de publicidade.

O Manchester voltou ao topo dos clubes mais bem pagos do mundo. E, graças à profissionalização do futebol na Inglaterra, deverá ser muito difícil conseguir um valor de mercado melhor do que esse. Por mais que o Barcelona e o Real tentem, eles não conseguem dar o mesmo retorno comercial do time inglês.

E o futebol brasileiro, paralelamente, deveria estudar um pouco mais como está fazendo a liga inglesa antes de pensar em qualquer caminho a ser seguido para melhorar nosso futebol.