Negócios do Esporte

Arquivo : outubro 2014

Futebol brasileiro ganha o Barcelona na briga por patrocínio
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Erich Beting

Se o problema até julho era a Copa do Mundo, agora será o Barcelona. Pelo menos é essa a desculpa que poderá ser usada pelos clubes de futebol no Brasil na sua incapacidade de adequar-se à nova realidade econômica que se desenha desde 2012 e que agora escancaradamente dá as caras. O clube espanhol será o novo concorrente dos times brasileiros na disputa pelo dinheiro das marcas.

Nesta quinta-feira, o Barça e a Gillette apresentaram o acordo de patrocínio para a região da América Latina. Com direito a ação com Lionel Messi, destaque no site oficial do clube e exposição gritante da marca em veículos de mídia no Brasil, o patrocínio mostra o novo foco de investimento do clube espanhol. Com um trio de ataque formado pelo melhor jogador da Argentina, o melhor do Brasil e o melhor do Uruguai, é natural que o marketing do Barcelona volte seus olhos para o mercado latino-americano (detalhes aqui).

O problema é o que isso pode representar para os clubes de futebol no Brasil.

Se já estava difícil arranjar patrocínio sem um concorrente de peso a não ser a própria acomodação natural do mercado aos valores abusivos que eram cobrados pelos clubes, agora a situação é mais complicada. O Barcelona não cobrará os valores astronômicos pelo patrocínio. Pelo contrário, o dinheiro é substancialmente mais baixo.

Afinal, o negócio não é tanto a exposição da marca da empresa, mas as possibilidades de uso da marca do clube para ações com o consumidor da América Latina. Nesse sentido, a comparação é simples.

De um lado, é preciso gastar milhões para patrocinar um clube de ponta no Brasil e ter alta exposição da marca em campeonatos como o Brasileirão, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e a Libertadores. Pouca coisa além disso dá para ser feita. No máximo, fazer campanhas com ingressos (que quase sempre sobram) para a ida a essas partidas.

Do outro, com menos dinheiro, é possível fazer ações promocionais envolvendo um dos clubes mais desejados do mundo. Você investe menos no patrocínio, não ganha tanta exposição, mas tem verba para fazer promoções que levem, por exemplo, torcedores para acompanhar um jogo do Barcelona no Camp Nou.

Com a comparação, parece ser inegável o que gera mais valor para a marca, não é mesmo?

Se a desculpa até julho foi a Copa do Mundo, agora o discurso deverá mudar para a concorrência desleal do Barcelona. Ou então só agora os clubes vão perceber que a desculpa não cola…


Basquete opta pela TV e elimina finais de semana
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Erich Beting

A opção do basquete brasileiro foi clara. Em vez de pensar em estratégias para levar as pessoas para o ginásio aos finais de semana, como geralmente acontece com as modalidades esportivas, o Novo Basquete Brasil (NBB) optou por buscar, primeiro, o torcedor que está no conforto de suas casas.

A decisão do NBB de fazer jogos apenas entre terça e sexta-feira, assegurando assim duas transmissões por semana no Sportv pode chocar quando pensamos puramente no esporte. Como pensar que o principal torneio de basquete do país abre mão de realizar partidas nos finais de semana? (detalhes da mudança podem ser lidos aqui)

A escolha tem lógica quando olhamos o cenário do esporte brasileiro. Grande parte dos ginásios do país está sucateada, o que torna o evento pouco atraente para o torcedor se deslocar até a quadra de jogo. Além disso, o basquete não tinha, até então, uma data fixa e certa para a transmissão de seus jogos na TV. Mesmo na fechada.

Ao estabelecer dia e horário fixos para os jogos, o NBB começa a entrar na rotina do torcedor. Essa foi a chave, há mais de 40 anos, da massificação dos esportes americanos na mídia. Por lá, os direitos de transmissão são pulverizados pelas redes de televisão, e cada uma delas passa a ter um horário fixo para seus eventos. Isso cria o hábito no consumidor. Mas, lá, esse foi o segundo passo de promoção do esporte, contando já com boa presença de público e patrocinadores para pagar a conta do “ao vivo”, a expansão natural foi buscar o caminho da televisão.

Nesse sentido, o basquete do Brasil começa pelo caminho inverso. É preciso, pelas precárias condições existentes no país, tentar promover primeiro o esporte como um espetáculo de mídia para, então, atrair o público para dentro dos ginásios. O basquete não está inventando a roda. Repete exatamente a fórmula do vôlei no início dos anos 80, quando a liga nacional começou a vingar.

A diferença, agora, é que existe mais preocupação da própria TV em promover o esporte. Assim como foi dito aqui outro dia sobre o judô, quando a mídia se propõe a ajudar na promoção do esporte, o maior beneficiado é o consumidor.

É muito, mas muito ruim o basquete ter de abrir mão de jogar aos finais de semana, quando teoricamente o torcedor está no período de folga e tem a possibilidade de ir ao evento in loco. Mas, dadas as circunstâncias, é mais eficiente abrir mão do torcedor no ginásio para primeiro fisgar aquele que está em casa, mas não tem contato com o esporte de maneira regular.

O basquete indica para as outras modalidades um pouco do caminho que precisa seguir. Enquanto as diferentes modalidades esportivas no Brasil não entenderem que é preciso achar um espaço que não invada a outra e, assim, ela possa navegar “sozinha”, continuaremos a achar que nada funciona no país que só pensa o futebol.

O primeiro passo que o esporte precisa fazer é conquistar o público. E ele, hoje, está muito distante da arena esportiva. Até mesmo no futebol…