Negócios do Esporte

Futebol do Brasil combate o sintoma, não a doença

Erich Beting

Ao que tudo indica, com mais força será travado o debate ''mata-mata x pontos corridos'' sobre qual seria o formato de disputa mais adequado para o Campeonato Brasileiro de futebol. Dessa vez, parece que há maior inclinação para que se resolva pela volta do mata-mata dentro da fórmula do Brasileirão.

A gritaria que se faz, de um lado e de outro, sobre qual modelo seria o ideal, mostra o quanto o futebol no Brasil combate o sintoma, mas não a doença.

De um lado, apregoa-se que o mata-mata aumenta a imprevisibilidade do resultado e, assim, cria-se mais interesse para o público. Isso geraria mais gente nos estádios e mais audiência de televisão, o que na ponta final da tabela aumentaria a receita.

Do outro lado, defensores dos pontos corridos evocam a meritocracia do planejamento e a previsão de calendário como maiores benefícios do atual formato de disputa. Além de premiar quem se prepara melhor para a competição, cria-se melhores condições para as marcas que quiserem se associar ao evento, já que há uma certeza de que em 38 datas haverá pontos de contato com torcedores de todos os times.

Os dois lados têm sua razão. O problema é que tais argumentos só seriam possíveis de serem levantados em defesa de um lado ou de outro se fizéssemos o básico, que é promover o evento. Qualquer que seja ele. O grande segredo dos bons torneios em mata-mata e dos bons torneios em pontos corridos é que eles são promovidos corretamente. O torcedor se sente confortável para ir ao evento, quer acompanhar pela TV, pela internet, pelo celular…

No fim das contas, tanto faz a fórmula de disputa do campeonato. O que o torcedor quer é consumir a competição, sem se importar se haverá um único jogo para decidir o campeão ou serão dez partidas simultâneas que apontarão o desempenho final.

Perdemos muito tempo e fôlego para tentar mostrar se a fórmula A ou B é a mais adequada para ''resolver'' os problemas do futebol, que seriam a baixa atratividade para o público (no estádio ou na TV), a baixa qualidade técnica dos times e, ainda, o pouco interesse dos patrocinadores em se associarem ao evento.

Não adianta dar remédio para a tosse para quem está, na verdade, com pneumonia. Continua-se a combater os sintomas sem olhar, de fato, o foco da doença do futebol brasileiro.

A volta do público, de bons jogadores, da mídia e, consequentemente, dos patrocinadores, só ocorrerá quando houver, realmente, uma competição que seja atrativa para torcedores, jogadores, imprensa e empresas.

Como mudar isso? É preciso, urgentemente, criar uma marca para o Campeonato Brasileiro e, a partir dela, trabalhar os próximos passos. Como fazer isso? Pode estudar a Bundesliga (pontos corridos), a Premier League (pontos corridos), a Liga dos Campeões da Uefa (mata-mata), a NFL (mata-mata), a NBA (mata-mata)…

A fórmula de disputa de uma competição pouco importa. O que precisa se encontrar é a fórmula de fazer, do evento, o mais cobiçado. Por todos.