A concentração de patrocínios é um risco ao futebol
Erich Beting
Começa neste fim de semana o Brasileirão. Os 20 clubes que disputam o título terão, em suas camisas, 40 diferentes marcas estampadas nesta primeira rodada. Esse é o número de patrocinadores, entre fornecedores de uniforme e empresas de outros segmentos, que têm acordos fixos com os clubes da Série A pelo menos até o final deste ano (alguns detalhes a mais estão aqui).
Essas marcas vão investir cerca de meio bilhão de reais nesses patrocínios. O número é expressivo, possivelmente a maior arrecadação com patrocínios na camisa de uma Série A de Brasileirão na história. Essa é a boa notícia.
MAS…
Sempre tem um copo meio vazio a se olhar.
Excluindo-se os nove fornecedores de material esportivo, sobram 31 marcas diferentes patrocinando os clubes. No peito da camisa, o patrocínio máster, que é o mais valioso, estão envolvidas apenas seis marcas, que patrocinam um total de 14 times. Há, ainda, seis clubes que não conseguiram vender essa propriedade.
Isso acarreta num enorme risco para o futebol.
Há muito dinheiro concentrado em poucas empresas. Dos cerca de R$ 350 milhões que esses patrocinadores colocam nos clubes, praticamente 50% da verba se concentra em quatro grupos: Caixa, Vitton 44 (dona de Guaravita, Matte Viton e Guaraviton), Banrisul e Tim. Outros R$ 45 milhões são de Crefisa e FAM, no Palmeiras.
Essa concentração de receita é um enorme risco.
A Caixa, com a gestão mais austera que começou a ser praticada pelo governo federal, tende a fazer um corte brusco nos investimentos no futebol a partir do ano que vem (detalhes aqui). Só para se ter uma ideia da dependência que existe hoje de um único patrocinador, se a Caixa saísse neste ano, a Série A teria 14 clubes (70% do total) sem um patrocinador principal, sem falar que o torneio ''perderia'' quase R$ 100 milhões da verba de patrocínio (20% do total).
Da mesma forma, se a Vitton 44 for realmente vendida, que é o projeto de seu dono, Neville Proa, pode de uma hora para a outra deixar ''órfão'' os clubes do Rio de Janeiro, levando embora, cerca de R$ 50 milhões em receita.
O futebol precisa, urgentemente, diversificar as fontes de arrecadação. O sócio-torcedor, entre os times de maior torcida, começa a ser um diferencial. Mas é preciso repensar o modelo de negócios oferecido às empresas. O São Paulo, com o projeto que não envolve exposição de marca, já obteve alguns bons resultados, tendo dois parceiros que asseguram uma receita de quase R$ 10 milhões e não estão na camisa.
Nunca um Brasileirão começou com tanto dinheiro nas camisas. Mas nunca a maior parte dessa conta foi paga por tão poucas marcas.