Tudo será como antes no reino da Conmebol
Erich Beting
2012: final da Copa Bridgestone Sul-Americana. O Tigre, da Argentina, não volta a campo para jogar o segundo tempo da partida contra o São Paulo. A equipe alega ter sido agredida no vestiário do estádio do Morumbi por policiais. O time brasileiro é declarado campeão, o caso não se desenvolve e tudo fica por isso mesmo.
2013: em partida válida pela fase inicial da Copa Bridgestone Libertadores, o San Jose, da Bolívia, recebe o Corinthians. Torcedores do clube paulista disparam um foguete sinalizador em direção à torcida do time boliviano. Kevin Spada, um jovem de 14 anos, é atingido e morre em consequência dos ferimentos. O Corinthians perde o direito de ter torcedores no estádio durante toda a primeira fase do torneio. E só.
2014: Tinga, volante do Cruzeiro, sofre insulto racistas de torcedores do Real Garcilaso, do Peru. A Conmebol multa o clube em US$ 12 mil e ameça interditar o estádio caso volte a ter um acontecimento semelhante. Dias depois, o então secretário geral da Conmebol, José Luis Meiszner, diz que ''um moreno peruano imitando macaco para um brasileiro um pouco mais escuro do que ele não é discriminação racial. É sim uma provocação mal-educada''.
2015: Boca Juniors e River Plate fazem a partida de maior ''tensão'' das oitavas de final da Libertadores. Na volta dos jogadores do River para o segundo tempo, um torcedor fura o túnel de proteção para a entrada dos atletas e joga gás de pimenta, queimando jogadores do River e suspendendo a partida.
Em resumo, esses foram os últimos quatro anos de torneios organizados pela Conmebol, entidade que rege o futebol sul-americano. Reger talvez não seja o verbo mais adequado, mas é ela a responsável pela gestão das principais competições do continente.
Pelo Twitter, muita gente me perguntou se Bridgestone e outros patrocinadores não deixariam o torneio após mais um desmando envolvendo uma competição da Conmebol.
Não. Tudo seguirá como antes. A Libertadores já foi Copa Toyota, passou a Copa Santander e, hoje, é Bridgestone. As duas empresas que deixaram o ''title sponsor'', que é o direito de dar o nome ao torneio, continuam envolvidas no patrocínio, mas com cotas inferiores. O motivo? A cada renovação, a Conmebol pediu ainda mais dinheiro para renovar o contrato.
Por que isso ocorre mesmo com esses descasos que são cada vez mais recorrentes? O futebol é a plataforma de esportes mais eficiente para engajar o consumidor na América do Sul. A Libertadores é o principal e único torneio que é objeto de desejo dos torcedores no continente. Sendo assim, para marcas globais com atuação pela América Latina, nada mais óbvio do que se associar a esse evento.
Por mais erros que cometa, a Conmebol está ''blindada'' pela importância, para o torcedor, do torneio que ela teima em estragar a cada ano. O reino da Conmebol é encantado, por mais maltratado que esteja. E o patrocinador, de mãos atadas, tem na Libertadores o melhor caminho para falar com o consumidor de um jeito mais barato e eficiente.
A única chance de mudar isso é se os clubes se rebelarem contra a entidade. Como isso envolve uma batalha política que respingará na Fifa, a possibilidade de haver engajamento das equipes é, também, próxima a zero.
O futebol sul-americano agoniza. E, para piorar, o cenário não parece propenso para se mudar os responsáveis por tamanha agonia…