Negócios do Esporte

Fla e Guerrero. Ou: o marketing deve sobreviver ao campo

Erich Beting

Paolo Guerrero não teve a ação de marketing prevista pelo Flamengo para a sua apresentação (leia aqui). Após mais uma derrota, o clube desistiu de fazer a festa para o artilheiro da Copa América e hoje uma das poucas esperanças da torcida para reverter o mau início de Campeonato Brasileiro.

A decisão do Flamengo é tão complicada quanto aquela que uma família precisa tomar quando morre um parente justamente no mesmo dia do casamento. Cancela-se à festa em respeito ao amor ferido pela perda de uma pessoa querida ou tenta-se seguir a vida mesmo assim, esperando que a dor do luto passe?

O Flamengo não precisaria cancelar a festa por Guerrero, se o marketing já conseguisse sobreviver para além do desempenho do time dentro de campo. Mas encontrar esse equilíbrio é a chave que falta praticamente a todo gestor esportivo no mundo todo. Até mesmo nos EUA, onde o marketing muitas vezes é quem guia o esporte, há protestos e pedidos de desculpas por ações que transbordem o copo.

O problema é que, no Brasil, ainda achamos que marketing só se pode fazer com o time bem dentro de campo. Sem a ''agenda positiva'' da mídia sobre o clube, o melhor a fazer seria ficar calado e esperar a bola chutar o mau noticiário para longe e aí sim lançar novas iniciativas.

Esse é o maior erro que existe e que insiste em fazer com que o marketing não sobreviva sem o campo. O Flamengo vem claudicante no campeonato desde o começo. O time não embala, não empolga e não convence. Mesmo assim, a contratação de Guerrero resgatou a chama de esperança do Rubro-Negro. A venda de camisas aumentou, a adesão de sócios-torcedores, idem.

Por qual motivo a derrota do domingo deveria interferir na experiência única que seria dada ao torcedor de acompanhar a apresentação de seu novo ídolo num evento só para convidados?

Muitas vezes os dirigentes esquecem que os motivos que unem o torcedor a um clube são sempre muito mais fortes do que aqueles que, eventualmente, o afasta dessa paixão.

O campo deve sempre se sobrepor ao marketing, no sentido de que uma ação não pode prejudicar o clube esportivamente. Mas o marketing precisa conseguir viver sem depender exclusivamente do campo…