O atleta-objeto é a deturpação do esporte como notícia
Erich Beting
Ingrid Oliveira é, como qualquer jovem de 20 anos de idade, adepta das redes sociais e, especialmente, do Instagram. Há uma semana, Ingrid publicou uma foto em seu perfil com a legenda “Primeiro treino”.
Ela estava sobre a plataforma de salto da piscina onde ocorreram as disputas dos saltos ornamentais do Pan-Americano de Toronto.
A foto virou notícia. Não pelo treino realizado pela atleta, mas pela imagem de seu corpo na foto.
A imagem tem 16,2 mil curtidas e mais de 2 mil comentários. As fotos tiradas por Ingrid antes dessa raramente chegavam a mil curtidas.
Após virar notícia pela beleza de seu corpo, Ingrid ganhou mais de 50 mil seguidores no Instagram e foi alçada ao status de “atleta-musa”, a modalidade olímpica caça-clique adotada pelos sites em busca de números para justificar ao anunciante.
O caso mostra como a notícia, no esporte, deixou de ser o esporte para ser o atleta visto como celebridade. Nos anos 80, sem TV a cabo e internet, atletas-musas recorriam à Playboy para ganhar mídia e talvez assim uma verba de patrocínio.
O veículo, porém, só falava do atleta dentro da competição. Hoje, a regra mudou. A ordem é destacar o lado “muso” do atleta, ainda mais com a facilidade das redes sociais.
Ah, sim. Ingrid foi prata no salto em dupla. A foto com a medalha não teve grande destaque na mídia. Resultado? Metade das curtidas e um terço dos comentários no Insta…
A mídia precisa rever os critérios do que é notícia no esporte. Não só pelo bem do Rio-2016, mas para a própria sobrevivência pós-Olimpíadas.