O grande prêmio do Grande Prêmio
Erich Beting
Geralmente é nos momentos de dificuldade que aprendemos a nos reinventar. Hoje, não é novidade alguma, o setor de mídia passa por um momento de reinvenção. A realidade da área de mídia vem sendo transformada pela internet há pelo menos duas décadas. Primeiro, o próprio desenvolvimento da internet veio bagunçar o meio impresso. Agora, as redes sociais estão mudando a realidade do próprio veículo no meio digital. E, nesse período de tanta mudança, é preciso para o jornalismo se reinventar como negócio.
Na Europa e Estados Unidos, os veículos fecharam seus conteúdos e estão cobrando pelo acesso. É, a grosso modo, a migração do modelo de assinatura de jornal para o meio digital. Por aqui, a moda ainda não pega tanto. Já somos capazes de aceitar pagar pelo Netflix, mas não aceitamos a ter uma assinatura pelo conteúdo escrito. E, assim, os veículos vão se desesperando. Ainda vendem para o anunciante audiência, num modelo cada vez mais fadado ao fracasso.
O grande mérito de um veículo de mídia é sua relevância. Ele faz diferença para um determinado público? Então é isso o que o fará ser atrativo para um anunciante ou para um cliente. E é exatamente esse o ''pulo do gato'' que acaba de ser dado pelo Grande Prêmio, site especializado em automobilismo de Flávio Gomes e logicamente muito bem liderado pelo Victor Martins. Os dois são feras em jornalismo. E mostraram que sabem o essencial para manter uma empresa relevante: cativar o consumidor.
Flavinho explicou longamente quem são os patrões e patronos do GP (leia aqui). Para resumir, eles criaram um projeto que cria um clube de benefícios para os leitores do GP. O associado paga um valor por mês e, em troca, passa a ter acesso a toda gama de promoções, acessos exclusivos e experiências únicas proporcionadas pelo site e por parceiros (detalhes aqui).
Como brinquei ao ser apresentado ao projeto, é uma espécie de ''sócio-torcedor'' do GP. O leitor, fã do automobilismo, é também um fã do site. Do estilo que ele implementou na cobertura do esporte motor, do jeito que ele aborda os assuntos, etc.
Ao ser relevante, o GP passa a ser um diferencial para as empresas. Ele consegue engajamento, algo cada vez mais raro de alcançar num mundo em que a mídia está amplamente fragmentada e, pior, condicionada pelos algorítimos das redes sociais.
O Grande Prêmio traz, para a mídia, um grande prêmio. Ele mostra um caminho que é possível tomar para reinventar o modelo de negócios. Por mais anúncio direcionado que o Facebook ou o Google possam colocar para os internautas, as mídias sociais não são capazes de fornecer engajamento do público com a mídia. E isso, para uma estratégia de marca, é primordial.
O meio digital muda a cada três anos de forma brusca, rompendo modelos centenários e colocando quem está no mercado num teste de fogo. O esporte consegue um nível de engajamento do público que quase nenhum outro segmento é capaz de fazer. O GP percebeu, a seu modo, que isso pode fazer toda a diferença.
É impressionante como marcas centenárias do jornalismo não procuraram o mesmo – e óbvio – caminho. Tinham mais força comercial e estrutura para isso. Mas é mais fácil culpar a crise e promover cortes na empresa a tentar mudar um modelo de negócios quase secular.
A encruzilhada vivida pela mídia é similar à vivida pelo esporte no Brasil. O modelo que existia não se sustenta. É preciso repensar a estrutura. E nada melhor que uma época em que o dinheiro não cai no colo para isso…