Liga das Américas erra ao priorizar negócio em vez do esporte
Erich Beting
A proposta de criação de uma Liga dos Campeões das Américas (detalhes aqui e aqui) parece coisa de maluco, mas tem por trás um fôlego de investimento e uma capacidade de leitura do mercado de mídia das Américas que justifica em boa parte o ''devaneio'' apresentado pela agência MP&Silva aos clubes.
O problema da liga, porém, não é tanto não ter olhado para trás e visto o que fez fracassar o mesmíssimo projeto criado pelo empresário J. Hawilla em 2000. O maior erro da liga é priorizar o negócio em detrimento do esporte.
Ao propor um torneio com 64 clubes, a MP&Silva busca a mesma fórmula que consagrou a Fifa com a Copa do Mundo. Com mais clubes, há mais datas de jogos, então cobra-se mais das empresas de TV pela transmissão do evento. É em razão dessa lógica, por exemplo, que os Estaduais não enxugam suas datas, ou que os clubes não querem pensar em tirar o Brasileirão do formato de pontos corridos.
O problema é que, no caso da Liga dos Campeões das Américas, ter 64 clubes é muito para um mercado em que não há tantos times em mesmo nível de competitividade assim. O problema torna-se ainda maior quando a proposta passa a considerar que, dos 64 times, 16 serão do Brasil e outros 16 da MLS, a liga de futebol que reúne equipes dos Estados Unidos e Canadá.
Imagine como ficaria a disputa do Brasileirão se ele passasse, de um dia para o outro, a ter o G-16 e o Z-4? Qual a atratividade da competição? Ou, então, que a Copa do Brasil desse oito vagas para a Liga, e o Brasileirão outras oito? E a Argentina e o México teriam oito times cada um para levar a uma competição dessas?
O funil de competitividade esportiva iria para o buraco dentro do projeto de Liga dos Campeões das Américas. E isso é o primeiro passo para o insucesso comercial dela.
Nunca foi tão fácil, conjunturalmente, criar uma competição que desse uma banana para Conmebol e Concacaf. Os clubes têm esse poder para peitar as entidades como nunca tiveram. Mas, no único projeto apresentado até agora, o sonho megalomaníaco de fazer um torneio que se equipare à Liga dos Campeões da Uefa não passa de uma apresentação comercial que carece de um estudo histórico de como a Liga dos Campeões e até mesmo a Libertadores conseguiram se tornar um torneio atrativo para os seus participantes.
O grande segredo do negócio no esporte é que o mérito esportivo é sempre maior que o comercial.