Ronaldinho e a visão deturpada de “negócio” no futebol
Erich Beting
O Fluminense exaltou o ''retorno de marketing'' que Ronaldinho Gaúcho proporcionou ao clube em menos de três meses que esteve com um contrato assinado com o clube. Diz o Flu que a presença do astro, mesmo que apagada, gerou maior receita com bilheteria e adesão ao programa de sócio-torcedor do clube.
Quando foi anunciado, em julho, Ronaldinho realmente representou um incremento de receita para o Flu. O clube rompeu a barreira dos 30 mil sócios-torcedores pela primeira vez, com um recorde de 9 mil adesões durante o mês. Além disso, no clássico contra o Vasco, teve até então seu melhor público e renda no Brasileirão (detalhes aqui).
Mas a euforia ficou estacionada aí.
Depois que ''entrou'' em campo, Ronaldinho passou a decepcionar o torcedor. E, com o time mal em campo, o sonho não se realizou. O Flu estacionou no programa de sócios (só teve mais 2 mil novos sócios nos dois últimos meses) e a receita de bilheteria minguou com o time muito mal em campo.
O caso evidencia uma miopia do esporte no Brasil, acentuada desde o fenômeno Ronaldo-Corinthians. O futebol no Brasil precisa entender que não é só pelo fato de o jogador ter tido boa performance esportiva no passado e ser um ídolo nacional que ele, necessariamente, será um bom negócio.
O primeiro motivo para isso é lógico. Um clube tem como seu principal negócio a performance esportiva. Ele não pode achar que o torcedor espera dele, em primeiro lugar, lucro no balanço financeiro ou estupendas arrecadações com contratos comerciais. Sim, de uma forma indireta ele almeja isso, mas desde que essas duas coisas sejam revertidas para a construção de um time vencedor. O torcedor só passou a se preocupar com valores de patrocínio e balanços financeiros nos últimos anos pelo que eles podem representar em termos de performance esportiva.
O erro do Fluminense, como já havia sido do Flamengo, foi acreditar que Ronaldinho poderia gerar retorno dentro e fora de campo para o clube. Já faz tempo que ele não consegue trazer as duas coisas. Na realidade, apenas nos dois anos mágicos do Barcelona que ele foi capaz de trazer retorno nos dois campos.
Se, esportivamente, Ronaldinho foi indiscutível, fora de campo sua capacidade de gerar receita quase sempre esteve restrita ao momento bom que ele viveu dentro de campo. O Atlético Mineiro que o diga.
Em nenhum aspecto a passagem-relâmpago de Ronaldinho pelo Fluminense foi bem-sucedida. Dentro de campo, se é que ele esteve lá, ela foi um fiasco. Fora dele, só correspondeu quando ainda era uma promessa. A partir do instante em que o campo passou a interferir na percepção do torcedor, o encanto se quebrou.
Na esteira do sucesso Ronaldo-Corinthians, os clubes apostaram em nomes que, pretensamente, poderiam ser ótimo negócio para gerar caixa, movimentar a marca e criar um caso de sucesso. Adriano, Kaká e Ronaldinho são a prova de que isso não é possível.
O futebol tem de entender o que é negócio e, mais ainda, como fazer negócio. Achar que é só chamar um medalhão para as vendas dispararem é um erro primário. E que, quase sempre, acarreta num desequilíbrio financeiro – e técnico – para o time.