Negócios do Esporte

Quanto pior, melhor?

Erich Beting

O futebol da seleção brasileira parece ter entrado no mesmo espiral da política nacional. O grupo do ''quanto pior, melhor'' aparentemente está se tornando cada vez maior e mais influente.

Ontem, na derrota para o Chile, a seleção brasileira mais uma vez expôs os defeitos de um time ainda em formação, acossado cada vez mais pelo ''fantasma do 7 a 1'' e, ainda pior, sem contar com o principal jogador e referência da equipe. Pela frente, teve também o melhor time do continente na atualidade, embalado, jogando em casa.

A derrota para o Chile era previsível. O Brasil vive uma transição de gerações, atuando com um time bastante jovem, e recupera-se de um enorme trauma sofrido dentro de casa.

Mas o que aconteceu na derrota brasileira, para mim, foi novidade. Pela janela de casa, o primeiro gol chileno foi acompanhado de uma corneta tocada por um torcedor solitário. No segundo gol, porém, outras comemorações surgiram, acompanhadas até mesmo de um rojão estourando ao longe.

Comentei no placar em tempo real do UOL e no Twitter a situação. Apenas um comentário foi de que havia muito estrangeiro morando aqui. Os demais foram elogiosos à atitude e relembrando, sempre, os 7 a 1.

 

A situação é alarmante.

A má fase do time é um fenômeno absolutamente compreensível e passageiro. O Brasil ficou 24 anos entre o tri e o tetra mundial, penou antes de se classificar e ganhar o Mundial de 2002, escorregou nas últimas Copas. Mas, nunca, o torcedor se engajou tanto contra a seleção.

A crise é de imagem. A conexão de boa parte da torcida com a seleção, que havia se perdido dentro de campo, agora se transformou em histeria pelo fim de qualquer credibilidade do esporte fora das quatro linhas.

Quando o presidente da CBF precisa estar mais preocupado em não viajar com o time nacional do que em criar uma identificação da equipe com o torcedor, realmente a conclusão que se chega é a de que, quanto pior, melhor.

O futebol nunca esteve tão ruim fora das quatro linhas. O problema é que os dirigentes olham para os lados e não conseguem tomar uma atitude que mostre que é possível sair do buraco.

Qualquer semelhança com o momento político vivido pelo país não é mera coincidência. A troca do projeto de governo pelo projeto de poder acaba, no médio e longo prazo, com o modelo vigente. Ainda mais se ele está calcado numa estrutura corrupta.

Existe, hoje, além de uma crise técnica, uma enorme crise de imagem no futebol que faz o torcedor desertar não só para Miami, mas para qualquer rival brasileiro dentro de campo. Será que chegaremos ao ponto de até para a Argentina ver gente torcendo?

Assim como a crise econômica não é boa para o país, a derrocada da bola brasileira não é benéfica. Ela só causa a sensação de que não há realmente como acreditar que dias melhores virão e que qualquer crise tem seu ápice e, depois que se ajusta, volta a calmaria.

O problema é que, assim como no universo da política, não há no mundo da bola exemplos que nos indique que, no momento, exista algo mais eficiente para provocar a mudança do que a terra arrasada.