Primeira Liga revela a dificuldade de ser “novo” no futebol
Erich Beting
''O poder é dos clubes''.
''Sem os clubes não há futebol''.
''Somos mais importantes que a CBF''.
Todas as frases acima são verdadeiras. E costumam ser amplamente usadas para justificar a ''tomada de poder'' pelos clubes neste momento de ampla fragilidade da CBF, que muito possivelmente não ganhou presente do Papai Noel por mau comportamento neste ano de 2015.
Mas será que os clubes estão preparados para assumirem esse controle?
A julgar pela bagunça política em que já se transformou a Primeira Liga, antes mesmo de seu nascedouro, é praticamente possível imaginar que possa ser possível pensar em ser ''novo'' no futebol brasileiro.
A disputa por poder parece cegar completamente o dirigente de futebol. Seja ele o poder político, seja o poder econômico. A primeira disputa, pelo poder político, já foi aparentemente controlada. Foi sufocada a tentativa de fazer de Mario Celso Petraglia, do Atlético-PR, um segundo presidente. Isso acabou causando, a princípio, a debandada do Cruzeiro. Depois, a queda de Alexandre Kalil, ex-Atlético-MG e articulador da ascensão de Petraglia, do cargo de CEO da liga.
Melhor assim.
Kalil não sabe ser CEO. É um habilidoso presidente, mas um gestor pavoroso. Entregou um Atlético-MG campeão, mas estourou as contas em busca do sonho. Foi forte nos bastidores políticos, mas não soube entregar um clube minimamente equilibrado financeiramente. Intempestivo, afeito a declarações bombásticas, sua função numa liga nunca deveria ser executiva.
Agora, pelo menos previamente, está nas mãos de Gilvan Tavares, do Cruzeiro, a negociação de contrato mais importante da Primeira Liga, que é a definição dos valores a serem pagos pela televisão.
E, na primeira oportunidade que surge, o dirigente, esse sim com função unicamente política, atropela os microfones e diz já ter tudo apalavrado com a Globo para a transmissão do torneio. O contrato ainda não foi assinado, não se há um entendimento pleno sobre o negócio, se a liga pretendesse mostrar mais seriedade, o mínimo que deveria fazer seria tentar preservar a negociação. Um leilão, a essa altura do campeonato, pode provocar um resultado perverso.
Está claro que não há nada de novo na gestão da Primeira Liga, a não ser o fato de que os clubes estão sentando para negociar em conjunto com a TV a transmissão do torneio. Se realmente existir novidade, a partir de agora, será na reunião sobre definição de distribuição do valor pago pela emissora que transmitirá a competição.
Alguém ainda acredita que há chance para o novo, que no caso seria vermos os clubes discutirem tecnicamente os critérios para determinar a divisão de receitas ou vai ser o famoso ''meu clube é grande, tradicional, etc''?
A Primeira Liga, a cada dia que passa, dá mais indícios de que é muito difícil ver o novo tomar conta do futebol. E olha que nunca antes na história da bola houve uma oportunidade tão boa quanto essa para isso…