Negócios do Esporte

A corrida sob ponto de vista da diversão

Erich Beting

Corrida de rua, no Brasil, é tratada quase sempre como assunto sério. Raras são as provas pelo país que conseguem atrair o corredor não pela performance, mas pela diversão. E talvez esse seja o motivo para, apesar de registrar crescimento exponencial, o mercado de corrida de rua ainda não atingir patamares tão grandes quanto nos EUA.

Na última sexta-feira corri  pela primeira vez a Maratona de Jerusalém. Ou melhor. O evento chama-se Maratona de Jerusalém, mas eu corri os 21km, algo que já estava além das minhas pretensões. Foi a segunda vez que fiz uma meia maratona. Na primeira, no Rio de Janeiro, estava preparado e focado e com um objetivo claro dentro da corrida, com cada quilômetro planejado e previamente estudado por horas na véspera da prova.

Nessa daqui, fui do jeito que dava. Sem o preparo adequado, pensando mais em terminar nem que fosse caminhando, sem conhecer o trajeto, sem me preocupar com tempo, querendo fazer uma imersão na prova a partir da observação do redor do que focado no meu objetivo.

Espécie de muleta para compensar a forma física longe do ideal, a estratégia no fim ajudou a me revelar um outro meio de encarar a corrida de rua que, no Brasil, está muito longe de ser aplicado.

As nossas provas são, quase todas, pensadas para o atleta. Elas têm um planejamento voltado para tomada de tempo, trajeto, posto de hidratação, etc. E, aí, esquecemos de colocar na prova alguns itens que parecem gracejos, mas que ajudam sensivelmente a envolver o atleta e fazê-lo ter uma outra relação com a corrida.

Durante o percurso da meia maratona em Jerusalém havia gente fantasiada na ''torcida'' por você, artistas fazendo performance com pernas de pau e música, muita música. Lembro de ter contado pelo menos seis bandas ao longo do percurso, tocando músicas das mais distintas, mas que ajudavam a aliviar um pouco a dureza do percurso cheio de subidas e descidas, da distância que em algumas horas parece não ter fim.

Ao colocar a diversão dentro da corrida, a prova te envolve de outra forma. Fica mais legal correr, você não se sente na obrigação de correr o melhor tempo da sua vida, o lado esporte como lazer ganha o espaço do esporte como competição. Isso, na ponta final do negócio, faz com que o público local se envolva muito mais com a corrida.

Maratona_Jerusalem

 

Foram incontáveis os pedestres que nos deram algum incentivo em palavras ao longo da prova, assim como as mãos estendidas ao longo da calçada pelas crianças que estavam felizes de poder incentivar os ''atletas'' que passavam perto de suas casas.

No Brasil, uma das poucas provas que, sem querer, consegue ter esse lado mais de diversão é a São Silvestre. Não por planejamento da organização, mas por ser uma corrida aguardada por todos.

Em seu sexto ano, a Maratona de Jerusalém colocou 15.330 pessoas para correr as distâncias de 42km, 21km, 10km, e 5km. No Brasil, apenas três provas conseguem reunir mais atletas do que essa (São Silvestre, Maratona de São Paulo e Maratona de Revezamento do Pão de Açúcar), todas elas com pelo menos 15 anos de história, numa cidade com população 14 vezes maior que a de Jerusalém.

Se começarmos a pensar na corrida muito mais como diversão do que como performance, teremos um novo salto no mercado brasileiro de corrida.

* O blogueiro viajou a Israel a convite do Ministério do Turismo