Inglaterra mostra que futebol pode ser similar às ligas americanas
Erich Beting
A conquista inédita da Inglaterra pelo Leicester mostra, mais do que qualquer outra coisa, que o futebol tem condições de se aproximar da igualdade financeira que as ligas americanas têm como princípio e que rege a imprevisibilidade tão característica das competições na América.
Desde sempre, o sistema fechado das ligas é apontado como o maior responsável por permitir que haja uma distribuição mais igualitária de verba entre os clubes. No universo do futebol, a questão de ter séries distintas e acesso e descenso é usada como primordial para que haja clubes mais ricos e outros mais pobres, impedindo que a competitividade entre grandes e pequenos seja maior.
O que aconteceu na Inglaterra, porém, mostra que o futebol pode, sim, ser mais racional e justo na divisão do dinheiro e, com isso, ter maior competição entre os times, deixando o campeonato imprevisível. E isso é ótimo, já que qualquer torcedor pode ter a ambição de fazer uma boa campanha naquele ano, não importa se ele representa um em um milhão ou em 5 mil pessoas.
A divisão mais justa do dinheiro bilionário da TV, na Inglaterra, somada ao fato de que os clubes muito ricos tiveram um ano desastroso tecnicamente, ajudaram a construir um pouco da improvável história do Leicester. Agora, com o título, a equipe do norte da Inglaterra arrecadará quase meio bilhão de reais (veja aqui os números da conquista) só com a grana da televisão.
O dinheiro da TV é, de longe, o maior financiador do esporte. Nos Estados Unidos, é a divisão mais justa dessa verba que faz com que haja maior igualdade entre as equipes dentro de campo e de quadra. No futebol, a política sempre interferiu nessa decisão de como a verba seria dividida. Assim, clubes mais populares quase sempre tiveram fatias mais importantes desse dinheiro.
De uns anos para cá, puxados pela Inglaterra, os demais países e competições começaram a tornar mais igual a distribuição da fatia do bolo da mídia. E isso tem gerado maior competitividade entre as equipes. Agora, a Inglaterra, ao consagrar o seu improvável campeão, mostra na prática aquilo que a teoria indicava.
A partir do instante em que há melhor divisão de receitas, há mais chance de todos fazerem um bom papel. E isso aumenta, substancialmente, o interesse das pessoas na competição. O americano sabe que, por ser um entretenimento, o esporte precisa dar motivo para as pessoas terem o desejo de consumi-lo. O futebol sempre achou que não precisava seguir essa mesma linha de raciocínio.
Os ingleses estão, a seu modo, reinventando o futebol…