Negócios do Esporte

Arquivo : maio 2016

Inglaterra mostra que futebol pode ser similar às ligas americanas
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Erich Beting

A conquista inédita da Inglaterra pelo Leicester mostra, mais do que qualquer outra coisa, que o futebol tem condições de se aproximar da igualdade financeira que as ligas americanas têm como princípio e que rege a imprevisibilidade tão característica das competições na América.

Desde sempre, o sistema fechado das ligas é apontado como o maior responsável por permitir que haja uma distribuição mais igualitária de verba entre os clubes. No universo do futebol, a questão de ter séries distintas e acesso e descenso é usada como primordial para que haja clubes mais ricos e outros mais pobres, impedindo que a competitividade entre grandes e pequenos seja maior.

O que aconteceu na Inglaterra, porém, mostra que o futebol pode, sim, ser mais racional e justo na divisão do dinheiro e, com isso, ter maior competição entre os times, deixando o campeonato imprevisível. E isso é ótimo, já que qualquer torcedor pode ter a ambição de fazer uma boa campanha naquele ano, não importa se ele representa um em um milhão ou em 5 mil pessoas.

A divisão mais justa do dinheiro bilionário da TV, na Inglaterra, somada ao fato de que os clubes muito ricos tiveram um ano desastroso tecnicamente, ajudaram a construir um pouco da improvável história do Leicester. Agora, com o título, a equipe do norte da Inglaterra arrecadará quase meio bilhão de reais (veja aqui os números da conquista) só com a grana da televisão.

O dinheiro da TV é, de longe, o maior financiador do esporte. Nos Estados Unidos, é a divisão mais justa dessa verba que faz com que haja maior igualdade entre as equipes dentro de campo e de quadra. No futebol, a política sempre interferiu nessa decisão de como a verba seria dividida. Assim, clubes mais populares quase sempre tiveram fatias mais importantes desse dinheiro.

De uns anos para cá, puxados pela Inglaterra, os demais países e competições começaram a tornar mais igual a distribuição da fatia do bolo da mídia. E isso tem gerado maior competitividade entre as equipes. Agora, a Inglaterra, ao consagrar o seu improvável campeão, mostra na prática aquilo que a teoria indicava.

A partir do instante em que há melhor divisão de receitas, há mais chance de todos fazerem um bom papel. E isso aumenta, substancialmente, o interesse das pessoas na competição. O americano sabe que, por ser um entretenimento, o esporte precisa dar motivo para as pessoas terem o desejo de consumi-lo. O futebol sempre achou que não precisava seguir essa mesma linha de raciocínio.

Os ingleses estão, a seu modo, reinventando o futebol…


Caso da tocha mostra preço da falta de planejamento
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Erich Beting

O comitê organizador dos Jogos Olímpicos divulgou, na última semana, o valor a ser pago pela Tocha Olímpica para quem for um dos 12 mil condutores da chama. O preço de R$ 1985,19 assustou muita gente e gerou uma enorme onda de reclamações no grupo reservado aos condutores no Facebook.

O caso rendeu a primeira crise aos patrocinadores. Pressionados, eles optaram por desembolsar a grana e dar para os condutores o mimo (leia os detalhes aqui).

A decisão coloca em evidência a questão de quanto a falta de planejamento atrapalha o negócio. O Rio-2016 demorou para definir o valor da tocha. Quando decidiu, o fez da pior forma possível. Simplesmente converteu o valor pago pela tocha de dólar para real e não se preocupou em dar melhores condições de venda para o consumidor.

A medida, impopular, colocou numa sinuca de bico as marcas, que tiveram de arcar com custos milionários, sendo que algumas delas não estavam prevendo comprar a tocha para os condutores.

Muitos podem se indagar o que representa, para as marcas, um custo extra de R$ 4 a R$ 5 milhões no orçamento milionário de uma Olimpíada. O problema é exatamente esse. Com o dinheiro já todo alocado no projeto olímpico, as marcas têm de repensar outros investimentos que seriam feitos para investir em algo que já estava, teoricamente, contemplado, que é a ação com o condutor.

O maior desafio que o Brasil tinha para as Olimpíadas era conseguir planejar e executar com maestria o evento. A alta do dólar já havia sido organizada com os patrocínios firmados em valor fixo para o câmbio. Não custava nada a mesma lógica ter sido aplicada para o valor a ser pago pela tocha olímpica.

Sem um planejamento bem detalhado, geralmente, os eventos estouram os orçamentos das empresas. O caso da tocha olímpica é só mais um a revelar essa máxima…