Negócios do Esporte

Ponto final

Erich Beting

Era janeiro de 2009 quando o telefone tocou e o Murilo Garavello, editor de esporte do UOL, me fez uma proposta indecorosa. Estrear um blog sobre negócios do esporte. O portal que já havia abraçado, quatro anos antes, o projeto de ter o primeiro site de conteúdo livre sobre negócios do esporte no Brasil agora me oferecia uma vitrine ainda maior para aquele desafio assumido em abril de 2005, quando criamos o projeto da Máquina do Esporte.

A ideia era transformar o que antes era demonizado pelo jornalismo esportivo em notícia. Falar de quem colocava dinheiro no esporte e transformava cada vez mais a cara do que sempre foi nossa paixão de infância.

Em 2005, quando fui conversar com o então editor do UOL Esporte Alexandre Gimenez sobre o projeto de o site estar ancorado no UOL, a única pergunta foi: “não vai parecer release, né?”. Naquela época, ainda não se falava sobre os negócios do esporte. Ainda era blasfêmia dizer o nome do patrocinador de um time, de um estádio, de falar sobre o que a marca queria fazer a partir de um investimento milionário na camisa de um time, num clube de vôlei, num evento…

Era, no jargão jornalístico, produzir um “release”, ou fazer o trabalho da assessoria de imprensa.

O voto de confiança e a ousadia do UOL em abraçar o projeto ajudaram, e muito, a alimentar a indústria do esporte no Brasil. Foi a visibilidade que o UOL deu para a Máquina que fez chegar aos torcedores comuns temas que antes eram restritos a um embrião do que pode se chamar de indústria esportiva no Brasil.

Foram quase quatro anos de Máquina do Esporte como parceiro do UOL para o portal reforçar o pioneirismo na internet brasileira e dar espaço não apenas para o noticiário de negócios do esporte, mas ampliar isso tendo um colunista sobre o tema.

Em janeiro de 2009, estávamos já em outro patamar. A Copa de 2014 seria no Brasil, havia alguma chance de o Rio ser eleito sede das Olimpíadas de 2016, a economia do país caminhava bem, as empresas investiam o que devia – e muito do que não devia – no esporte.

O blog foi um empurrão gigantesco. Para a minha carreira, para o meu negócio (naquele mesmo começo de 2009 também me tornei o único sócio da Máquina) e, numa escala maior, para a indústria do esporte no Brasil.

O começo do blog foi de ajuste. Entender o que o pessoal precisava ler, saber de que forma abordar temas espinhosos, lidar com a pressão de escrever sobre um negócio onde o torcedor só vê paixão. Depois que a coisa engrenou, todos ganhamos, blogueiro, UOL e indústria.

No meio disso também teve espaço para ser pioneiro em outras áreas dentro do UOL. Entrei de cabeça na ideia de ser o primeiro comentarista do Placar UOL, durante as Olimpíadas de 2012, já numa visão clara do portal de que a primeira tela passaria a ser o celular. Depois, vieram os programas em vídeo, os amendoins estrelados, os comentários de rodada de Brasileirão, Champions, Copa do Mundo…

No blog, foram milhares de textos (quem me conhece sabe que não sou metódico para contar com quantos caracteres enchi vossas paciências), incontáveis dores de cabeça por peitar verdades absolutas de um mercado ainda incipiente, várias DRs com patrocinadores e dirigentes que se sentiam ofendidos por colocar o dedo na ferida de uma ação mal planejada ou mal executada. Sem contar as zilhões de mensagens ofensivas de torcedores indignados por eu criticar suas paixões. Li todas, respondi a pouquíssimas, porque consigo entender a revolta do torcedor, afinal ainda hoje sou um.

Agora, porém, é chegada a hora de colocar um ponto final no blog por aqui. Quase sete anos depois de ter começado. Os 11 anos que se passaram desde a criação da Máquina do Esporte me transformaram muito mais num executivo do que num jornalista. Vou usar as Paralimpíadas do Rio para encerrar meu ciclo de jornalista de rua, que vai fuçar história e reportar. Para isso já tenho minha dedicada e competentíssima equipe da Máquina do Esporte.

É hora de ficar na função de executivo e analista de mercado. O blog, por aqui, para. Mas quem quiser é só me achar no LinkedIn, para onde direcionarei meus textos. Ou, duas vezes por semana, na Máquina do Esporte. Afinal, os negócios do esporte não param.