Cartolas da Conmebol são mais malvados que o “bicho-papão”
Erich Beting
Foi com certa indignação que soube, ontem, que a Conmebol proibiu crianças de entrarem junto com o time do Atlético-MG para a disputa da partida contra o Atlas, pela Copa Bridgestone Libertadores. Segundo a nota publicada pelo clube, a entidade que ''organiza'' o futebol na América do Sul proibiu a entrada dos torcedores-mirins com os jogadores.
Não foi por isso que o Galo também não entrou em campo mais uma vez pela Libertadores. Mas poderá ser por isso que, lá na frente, cada vez mais os torcedores prefiram ocupar seu tempo livre com a Liga dos Campeões da distante Europa do que o campeonato que acontece aqui, no quintal de casa.
Ao vetar a entrada em campo das crianças, a Conmebol vai contra qualquer tentativa de aproximar sua competição daquele que mais sustenta a indústria do esporte: a criança! O esporte profissional só existe porque há, desde pequeno, o sonho de consumo dele.
Aquele que consome esporte hoje, com certeza, foi alguém que sonhou algum dia em praticá-lo profissionalmente. Ou, pelo menos, a imitar seus ídolos em casa, na rua, na escola. Depois, a criança cresce e vira um gastador no esporte. É algo tão básico e lógico que assusta perceber que o futebol sul-americano simplesmente ignora essa necessidade de falar com os mais novos.
Na semana passada, durante a cobertura do Rio Open, recebi o convite de disputar um game na quadra central contra David Ferrer, que acabou sendo o campeão do torneio. Ação de marketing da Claro, patrocinadora do torneio, a iniciativa gerou reações incalculáveis para mim. Desde a divertida preparação psicológica para ter meus 2 minutos de vivência de um profissional do esporte até as brincadeiras que ainda seguem após a maior humilhação pública que já sofri. O interessante é que, por mais patético que tenha sido o meu desempenho em quadra, nunca passei tanta vergonha sem deixar de estar muito feliz e até orgulhoso de ter estado lá.
Realizei, ali, um sonho de infância. Se não tivesse tido a oportunidade de ter contato com o tênis na infância, provavelmente acharia aquela iniciativa uma coisa completamente sem graça.
Quando a Conmebol começa a afastar a criança de iniciativas que vão valorizar o fascínio que ela tem pelo esporte, ela começa a cavar a própria sepultura. O sonho de uma criança é que faz o esporte ser um negócio.
Parece que nem o ''bicho-papão'' consegue pensar em tantas maldades para as crianças como os dirigentes do futebol sul-americano…