Negócios do Esporte

Fuga dos craques do Brasileiro evidencia o status do país
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Erich Beting

Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e Diego Tardelli talvez sejam os três destaques dos últimos dois anos do Campeonato Brasileiro. Ídolos no Cruzeiro e no Atlético-MG, os três foram em boa parte responsáveis pelo sucesso dentro de campo da dupla mineira no biênio 2013-2014. Agora, em 2015, os três foram negociados com o exterior, para poderem ajudar nas finanças combalidas dos dois clubes e, também, para ganharem um bom dinheiro com salários.

Naturalmente, como sempre aconteceu, os grandes destaques do futebol no Brasil foram jogar em renomados clubes da Europa. Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Manchester United estavam de olhos neles, não é?

Ops…

Al-Ahli (Everton Ribeiro), Shandong Luneng (Tardelli) e Guangzhou Evergrande (Goulart) são os novos destinos dos jogadores.

É sintomático perceber que os principais nomes do Brasileirão só recebem propostas para jogar na periferia do futebol mundial, enquanto os jogadores que realmente interessam aos maiores clubes europeus são aqueles de marcação, como Lucas Silva, que foi para o Real Madrid. Antes, Douglas (Barcelona) e Casemiro (Real Madrid) já tinham tido destino semelhante.

Se a exportação de pé-de-obra é um mal necessário para tentar ajustar as contas desequilibradas pelas cartolas furadas, que pelo menos consigamos produzir jogadores que tenham qualidade para serem protagonistas nos principais mercados da bola.

A cada atleta que se perde para a periferia do futebol, perdemos um pouco mais de identidade sobre o futebol que praticamos. Sem isso, deixamos de ter um bom produto e, naturalmente, estaremos em desvantagem competitiva com diversos outros países.

Nos próximos anos, com os cofres estourados, os clubes precisarão voltar os olhos para a base para formar suas equipes. Isso permitirá que muitos talentos brotem de onde não se espera, em mais um movimento típico de autopreservação da espécie que o Brasil é capaz de produzir no futebol.

O destino da fuga dos craques do Brasileiro serve como um bom sinal de alerta de que é preciso melhorar quem está na base…


Marketing não é vender patrocínio
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Erich Beting

Afinal, para que serve o departamento de marketing de um clube de futebol? Essa pergunta quase sempre é feita e a resposta quase sempre é completamente errada no conceito. Nos últimos dois anos, o que mais se ouviu sobre os bastidores do Palmeiras foi a frase de que o departamento de marketing era incompetente, que não conseguia encontrar, em pleno ano de celebração do primeiro centenário do clube, um patrocinador para a camisa alviverde.

Em menos de cinco dias, o Palmeiras acaba de anunciar o segundo patrocinador para o uniforme do clube. Agora, contrato de um ano de duração, com a Prevent Senior, que já vinha fazendo algumas ações em conjunto com o time. O negócio incrementará em mais R$ 5 milhões os cofres do clube.

O que mudou no clube para que os negócios tenham acontecido?

O departamento de marketing continua com a cadeira de principal executivo vaga desde a saída de José Carlos Brunoro, no fim do ano. Antes dele, Marcelo Giannubilo já tinha passado por lá e não conseguido o tal do ''patrocínio master''. As negociações deste começo de ano foram conduzidas por Paulo Nobre, presidente do clube.

O Palmeiras comprova o básico.Para um clube vender patrocínio, ele não precisa de uma estrutura de marketing, mas de um bom vendedor.

A função do marketing, a partir disso, é garantir ao patrocinador uma entrega além da prometida pelo clube e, também, gerar novos negócios em cima do torcedor do clube. Muito mais do que vender patrocínio, o marketing precisa ser o responsável por encontrar formas de o clube ter novas receitas. Criatividade, inovação, boas ideias, criar instrumentos para vincular o torcedor ao clube…

O marketing não é vender patrocínio. É fazer com que o torcedor esteja cada vez mais bem relacionado com sua paixão. Isso inclui, logicamente, saber vender patrocínio. Mas, mais do que isso, entregar o que foi vendido.

Esse é o maior desafio agora do Palmeiras. A venda foi feita. É preciso, agora, cuidar da entrega.


O choque entre o velho e o novo no Rio
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Erich Beting

Imagine que você seja dono de um bar que tem show ao vivo todo fim de semana. Você investiu numa bela reforma do espaço, criou um local que atende tanto ao público comum frequentador do bar quanto aquele cara mais endinheirado, que havia deixado de ir para lá porque ele estava ''meio caído''. Você colocou cadeiras mais confortáveis para o cliente, deixou melhor a visão de quem está lá para ver os artistas tocarem, melhorou a qualidade do atendimento dos garçons, aumentou o número de funcionários que trabalham no estabelecimento, fez um belo camarim para as bandas que aparecem, etc.

Com toda essa reforma, os custos aumentaram. Para fechar a conta todo mês, você precisa ganhar mais do que precisava antes. Com isso, para a ''conta fechar'', foi preciso tomar algumas medidas. Uma delas foi aumentar o preço da entrada para quem vai acompanhar o show. Outra medida, dura, mas necessária, foi começar a cobrar também daqueles amigos que aparecem a toda hora para te fazer companhia e curtir o bar. Não dá para deixar o pessoal ir lá e, pelo menos, não pagar os custos que você tem com a compra da bebida, o pagamento do cachê da banda, etc.

Agora imagine o seguinte. No estado que você mora, existe uma lei que te obriga a colocar, nos três primeiros meses do ano, artistas locais para se apresentarem. Essa lei foi uma manobra feita pela Associação dos Artistas, que estava perdendo prestígio e conseguiu achar um jeito de manter-se ativa e, mais do que isso, com receita garantida. Afinal, parte do que o artista arrecada com shows vai para ela.

Bom, a associação consegue impor essa lei. Os artistas geralmente são caras que estão em começo de carreira, que não arrastam público para os eventos onde tocam. No máximo vai a família do cara. Não é todo dia, mas pelo menos umas duas vezes por mês, quem toca, além dos caras bons, são esses menos atrativos para o seu público. Você não tem alternativa. É isso que precisa ser feito para aquele bar continuar a existir, até para não ser injusto com o cliente assíduo e com os caras que sempre tocam naquele lugar e que têm um público fiel sempre presente.

Neste ano, a Associação dos Artistas tem uma nova ideia. Ele diz que não é mais você quem determina o quanto vai cobrar do teu cliente para ir ao seu estabelecimento. Você está obrigado a limitar em R$ 50 o preço do couvert artístico. Não importa se o cara faz shows que as pessoas pagam até R$ 800 para ver, não importa se naquele dia haverá muita gente que seria a chance de você fazer o lucro do ano. Nada disso. Teu limite é R$ 50.

Essa regra foi imposta depois que um dono de um boteco que também está na sua cidade, não muito distante, decidiu fazer pressão com essa associação. Esse cara tem influência, estava há muitos anos no pedaço, tinha vendido o bar, mas recomprou-o para não vê-lo acabar e, agora que voltou, está tentando colocar a casa em ordem, mas antes ele precisa reduzir o poder da concorrência.

Aí surgiu essa regra que impede o bar de cobrar mais. É o mesmo valor para o dono do bar que custa pouco para ser mantido em pé daquele outro que acabou de ser reformado e tem investido para dar ao cliente mais conforto.

Parece um tanto quanto injusto que o dono do bar reformado tenha de se submeter a essa regra, não? Quem deve determinar o quanto ele cobra do cliente não pode ser uma regra da Associação de Artistas, mas o dono do lugar. E ele vai saber se está cobrando mais caro ou mais barato por conta de quanto cliente tem na casa, não é? No dia em que houver os dois melhores artistas do estado tocando, ele vai cobrar mais caro, afinal o público vai querer ver. Quando as atrações não forem tão legais assim, naturalmente ele não poderá cobrar tão caro, se não haverá pouca gente no bar e possivelmente ele vai ter de pagar para abrir o estabelecimento naquele dia, não é?

Pois essa é a situação atual do Maracanã. A Federação de Futebol do Rio criou uma série de regras para tentar aumentar o público nos jogos. Entre elas estão o limite de R$ 50 para o ingresso, independentemente se o jogo é no estádio do Madureira ou no da final da Copa do Mundo, se ele reúne Flamengo x Duque de Caxias ou Flamengo x Fluminense na final do campeonato.

Não é APENAS o preço do ingresso que determina a quantidade de gente no estádio. Com certeza não é por causa do valor do bilhete que os Estaduais tenham menos de 5 mil pessoas por jogo de média de público. Acho que tem muito mais a ver com essa decisão tomada pela CBF (ops, pela Associação dos Artistas) de que o campeonato estadual precisa ser mantido com 19 datas e sem o menor grau de atratividade para o público.

O Rio sente na pele o choque do novo com o velho. E, possivelmente pelos comentários que veremos abaixo, esse texto vai provocar a mesmíssima situação…


A piada da prefeitura com o Pacaembu
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Erich Beting

A prefeitura de São Paulo teve, em 2010, a chance de privatizar o estádio do Pacaembu. O projeto apresentado pelo Corinthians para a utilização do espaço por uma concessão de 30 anos, porém, caiu por terra. O argumento da Câmara dos Vereadores era de que não se poderia beneficiar apenas um clube para o uso de um espaço público.

Cinco anos depois, a prefeitura, em outra gestão, anuncia as condições para iniciar o processo de conversas para uma possível (e necessária) privatização do Pacaembu. Diz o prefeito Fernando Haddad que haverá um diálogo com os moradores locais, que as características serão preservadas, etc.

O morador do Pacaembu é contra o estádio. Não importa que ele tenha chegado antes de todo mundo à região. O morador se acha no direito de proibir shows e eventos para grandes públicos no Pacaembu. A força da ''Sociedade Amigos do Pacaembu'' é tamanha que expulsou de lá qualquer evento que torne minimamente rentável o espaço.

Até o ano passado, porém, a prefeitura não tinha esse desespero em privatizar o espaço. Até maio, o Pacaembu recebia os jogos do Corinthians e do Palmeiras. Depois, até novembro, continuou recebendo as partidas do alviverde. Com um evento a cada fim de semana, no mínimo, o estádio era garantia de receita para a prefeitura.

Com a Arena Corinthians e o Allianz Parque prontos, o Pacaembu perde sua função de ''casa'' de algum time de futebol na cidade. Sendo assim, se antes era um evento por fim de semana, agora é um evento a cada sabe-se lá quanto tempo. Para piorar, com a pressão da ''Sociedade Amigos'', não existe qualquer hipótese de se fazer alguma coisa além de um jogo de futebol no Pacaembu.

É uma piada, agora, a prefeitura tentar convencer quem sempre jogou contra o Pacaembu (''Sociedade Amigos'' e Vereadores) de que a saída para o espaço é sua privatização. Está mais do que provado que, para um estádio dar dinheiro, é preciso que haja um evento capaz de levar pelo menos 20 mil pessoas a ele toda semana. Sem o futebol como atrativo, é praticamente impossível de isso acontecer.

O Pacaembu não é um bom negócio se não há um time de futebol para ser o ''âncora'' do local. Wembley, na Inglaterra, é a melhor prova disso. A cada ano, apesar de mais de cem eventos realizados, o lendário palco do futebol inglês acumula prejuízo. Se quisesse salvar o seu estádio mais tradicional, os vereadores da cidade de São Paulo deveriam ter tirado a camisa de torcedor e analisado a proposta que tornaria o espaço rentável e melhoraria a região.

Agora a saída é transformar o local num parque. Para desespero dos ''Amigos'' que moram lá…


Os bons ventos soprados pela pré-temporada
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Erich Beting

A definição de que o futebol brasileiro teria o mês de janeiro de férias foi tomada apenas no fim de 2014, o que atrasou – e muito – a programação de clubes, promotores de eventos, donos de estádios e patrocinadores. Isso fez com que, nesse primeiro momento, ainda fossem poucas as possibilidades a serem exploradas para as ações de pré-temporada do futebol.

Mas, pelo que se viu nos últimos 10 dias, o futebol brasileiro começa a soprar novos ares a partir da realização dos amistosos entre clubes. Daqui e lá de fora.

As viagens de Corinthians, Fluminense e Atlético-PR ao exterior não apenas servem para ajudar a expor um pouco a marca do clube no exterior, mas revela a dirigentes e atletas uma outra realidade na gestão do evento esportivo. Os amistosos feitos por Corinthians e Flu dentro do complexo da ESPN na Disney mostram que há um outro tipo de vida no esporte dos Estados Unidos. A participação dos atletas no jogo da NBA, o relacionamento com dirigentes de outras modalidades e outros clubes. Tudo ajuda e dá experiência.

Da mesma forma, a realização de um torneio de pré-temporada em Manaus envolvendo três das cinco maiores torcidas do país (Flamengo, Vasco e São Paulo) é uma excelente oportunidade para esses clubes estreitarem a relação com torcedores locais, ajuda a aumentar as vendas, reforça a aura de ''nacional'' deles.

Por fim, a parceria entre Palmeiras e Red Bull para o amistoso do próximo domingo (detalhes aqui) é a típica ação que tem tudo para começar a mudar o paradigma de que estádio é um lugar para apenas assistir a futebol.

Em menos de três meses de preparação, clubes e promotores conseguiram tirar algumas ideias interessantes para explorar o mês de ''férias'' do torcedor. Isso gera receita e engorda os tão combalidos caixas dos clubes. E mostra que, no ano que vem, com todo 2015 para elaborar planos e criar projetos para as empresas, a tendência é de começarmos a ver um janeiro repleto de eventos interessantes para o público.

Dinheiro para investir em esporte existe. Desde que o produto seja interessante para o público e para os patrocinadores. As pré-temporadas mostram até agora o quanto é importante investir no produto. Não deixa de ser um sopro de esperança para o marketing no futebol…


O dinheiro nunca pode estar acima do esporte
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Erich Beting

Quando faz o regulamento do Campeonato Paulista, a Federação Paulista de Futebol se preocupa em excesso para que não haja qualquer atitude que coloque a competição numa espécie de ''segundo escalão'' de importância para os clubes. Em meio à disputa de uma competição importante como a Copa Libertadores, as equipes são obrigadas a jogarem com seus principais jogadores para não serem multadas pela entidade.

Da mesma forma, a federação também tenta coibir outras ''manobras'', como a escalação de jogadores de categorias menores, para evitar a inferiorização completa de sua competição. Talvez pela preocupação ao extremo com o bem-estar de sua competição, a FPF tenha esquecido de preservar aquilo que é primordial, que é deixar da forma mais equilibrada possível a disputa entre os clubes participantes do torneio.

Neste fim de semana, o Audax confirmou que abriu mão de jogar em seu estádio a partida contra o Palmeiras. Em vez disso, ''receberá'' o time da capital no Allianz Parque que é, justamente, o estádio do adversário! Sim, é isso mesmo. O time não apenas abre mão de jogar em casa como escolhe jogar no território rival…

Em troca de uma arrecadação quase milionária, a equipe de Osasco vai abrir mão daquilo que é fundamental no esporte, que é a competição.

Ok, pode-se justificar que essa é a melhor maneira de o clube arrecadar um dinheiro nunca visto, que sempre que joga em seus domínios o Audax não leva torcedores, que é uma forma de aumentar a receita, etc. Mas nunca – e vale repetir isso – nunca, o dinheiro pode estar acima do esporte.

O que faz do esporte um grande negócio é justamente o fato de ele ser, na essência, uma competição ''limpa'' entre atletas em busca da melhor performance. Quando abre-se mão desse princípio para ganhar dinheiro, perde-se aquilo que é a essência do negócio.

O mais impressionante nessa história toda nem é o Audax abrir mão da competitividade em troca de dinheiro. É a federação, tão preocupada com a ''grandiosidade'' do Campeonato Paulista, não preservar aquilo que é mais primário num torneio, que é a equidade de competição entre os times…


Mizuno mostra que está de volta à corrida
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Erich Beting

O mercado de corrida de rua no Brasil geralmente vive períodos cíclicos. Numa época, uma determinada marca se destaca, depois as concorrentes voltam para o páreo e assim vai. Se pudermos resumir os últimos 15 anos, a ordem foi mais ou menos essa: Adidas (2000-2005), Nike (2005-2010) e Asics (desde 2010). Agora, ao que tudo indica, começa a chegar a vez de a Mizuno ganhar espaço nessa disputa.

Desde 2013, quando a marca criou o projeto da Mizuno Uphill, que voltou a chamar a atenção do corredor de ponta, que é o atleta amador, mas preocupado com a performance. É esse o grande cara para formar a indústria dos corredores. É o atleta que tem outra atividade remunerada, mas tem na corrida uma espécie de atividade de lazer em que a alta performance é o objetivo. É o maluco que consegue fazer uma maratona em subida, ou então sair de São Paulo e chegar ao Rio de Janeiro, ou corre uma meia maratona com o coração saindo pela boca numa velocidade de 17 km/h.

Esse corredor é o grande foco das marcas porque ele é a inspiração para todos os demais corredores. São menos de 200 mil atletas amadores de ''elite'' no Brasil, mas eles espalham, para os mais de 2 milhões que correm sem estar preocupados com a performance, quais são as tendências do mercado, o que é melhor consumir, etc.

Eles são, a grosso modo, aquele primo ou tio que você tem e que sempre pergunta qual o melhor tênis ou relógio para correr, se não tem perigo de correr 10km, se a meia maratona dá muito medo, etc.

A Uphill marcou essa mudança dentro da Mizuno. Ela passou a focar a mensagem para o atleta amador de ponta e, então, ele espalha a marca para os demais segmentos da indústria.

A melhor sacada desse novo posicionamento veio neste começo de ano, com o projeto ''Invisible Runners''. O vídeo traduz, na essência, que a marca fala com o corredor amador de elite. Mas que a inspiração é o atleta do dia-a-dia. É só ver abaixo.

A Mizuno, sem dúvida, está de volta à corrida!


Por que todos (ainda) querem a CBF?
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Erich Beting

A Vivo renovou até 2023 o patrocínio à CBF (detalhes aqui). O vínculo com a seleção não só foi estendido como ampliado. Agora, não só a Vivo, mas todas as empresas do Grupo Telefónica poderão associar sua marca ao time nacional. Passou o ano da Copa do Mundo e a CBF já trocou a Volkswagen pela Chevrolet, acertou com a Michelin e ampliou o acordo com a Vivo. Todos esses acordos com valores anuais que superam o que é pedido pela maioria dos grandes clubes que buscam um patrocinador máster no uniforme.

Por que todos ainda querem a CBF ao passo que os clubes de futebol no Brasil penam para encontrar patrocinadores?

Nenhuma confederação de futebol fatura tanto no mundo quanto a brasileira. E o problema é a fraqueza dos clubes por aqui!

Não temos um campeonato nacional forte, os clubes vivem assolados com problemas de gestão que interferem no resultado dentro de campo, não existe uma cultura de patrocínio esportivo clara e duradoura no país e, ainda, falta um projeto de longo prazo a ser apresentado pelos clubes para as marcas.

Os primeiros pontos são evidentes quando analisamos os últimos anos de Brasileirão por aqui. O futebol está nivelado por baixo e os clubes sofrem com problemas extracampo (a antecipação de receitas e, agora, a saída de jogadores por falta de pagamento evidenciam isso).

A questão da ausência de cultura de patrocínio esportivo é a parte que mais interfere quando falamos das empresas. A Copa veio ajudar um pouco nessa relação, mostrando às marcas que, para o patrocínio valer a pena, é preciso pensá-lo muito além da exposição de marca. O projeto não pode ser de curto prazo, a relação não pode ser apenas como se a empresa tivesse comprado uma mídia para aparecer na TV e internet. É preciso ir além, se engajar, ''comprar'' o lado do time que você apoia, conectar-se e comunicar-se com os torcedores.

Por fim, é preciso que seja apresentado um projeto de longo prazo para as empresas que mostre que vale o esforço de se fazer esse investimento, de que ele retorna para a marca em imagem, em dinheiro, em negócio. Para isso, é preciso não olhar apenas a necessidade de curto prazo, mas a relação de longo prazo. E essa visão, hoje, é o que mais falta ao futebol.

Quando a Vivo decide chegar a 18 anos de relacionamento com a CBF, aumentando os valores envolvidos a cada renegociação, é sinal de que o patrocínio compensa. Nos outros mercados, geralmente é só depois que os grandes clubes e campeonatos não estão mais disponíveis que as marcas vão buscar a seleção para se relacionar. Aqui, a relação ainda é a inversa.

O primeiro investimento, sempre, é na seleção. Está na hora de os clubes começarem a bater na porta de quem não está com a CBF…


O milagre do X se desfez no esporte
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Erich Beting

A saída de Eike Batista da IMX (leia aqui) mostra o quanto ainda não há uma indústria de esporte no Brasil. É claro que o movimento está ligado à queda do ''Império X'', muito mais do que qualquer eventual frustração que Batista possa ter tido ao trabalhar com o esporte. Mas a mudança do controle acionário da IMX mostra o quanto acabou a euforia dentro da indústria esportiva.

Voltemos no tempo. Em novembro de 2011, Eike anunciou a sociedade com a IMG para abrir, no Brasil, a IMX. A ideia, dita no comunicado distribuído à imprensa, era fazer com que a agência se tornasse uma das maiores do mundo, impulsionada pelo crescimento do esporte no país.

O cenário era lindo. Economia em alta, esporte idem. Brasil já detinha o status para ser a sede da próxima da Copa do Mundo e também havia sido eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016. As empresas patrocinavam o esporte como nunca antes. Eike ainda era visto como o excêntrico e audacioso empresário que seria a síntese do Brasil adulto, maduro, ex-emergente e novo dono do pedaço. A entrada dele no esporte só vinha mostrar que estávamos chegando a um novo patamar.

A IMX foi a última das grandes a se movimentar. Antes disso, já viviam a festa no Brasil do Esporte Octagon, Geo Eventos (união de Globo e RBS), o publicitário Nizan Guanaes e até mesmo o ex-jogador Ronaldo, com o grupo WPP. Todos estavam aqui, prontos para oferecer toda a estrutura dos melhores grupos do mundo para o novo Brasil do Esporte.

Por que hoje só perduram IMX (sem o X), Octagon (até quando, já que os sócios brasileiros foram morar em Orlando?) e a 9ine (ganhando dinheiro com shows, não com esporte)?

O problema que já existia naquela época e que hoje é muito mais evidente é que, na prática, são muitos prestadores de serviço para pouco serviço em si.

A IMX de 2015 tem quase metade do tamanho de 2014. O problema não foi a Copa, mas a lucratividade do negócio. A agência queria replicar o modelo da IMG nos Estados Unidos por aqui. Tinha o braço de gerenciamento de imagem de atletas, tinha área de consultoria, tinha área de eventos. Das três, só sobrou a de eventos.

Para uma agência prosperar no país, ela precisa ter um evento próprio. Do contrário, não há negócio para ela. Ou melhor. Até existe, mas é muito pouco. Hoje, o negócio da IMX está sustentado no Rio Open de tênis, torneio que gera R$ 25 milhões em receitas. Nenhum outro braço da empresa (talentos ou consultoria) é capaz de gerar tanto dinheiro assim.

No mercado americano, em que o esporte é profissionalizado, existe espaço para que haja gestores de imagem de atletas, consultoria para empresas interessadas em investir, etc. A IMG é um colosso mundial porque atua num mercado 100% profissional, em que há muito dinheiro envolvido na indústria esportiva e sem perspectiva de sair.

Por aqui, ainda estamos desenvolvendo uma indústria. O esporte quase nunca sabe construir um produto que possa ser vendido. As empresas quase nunca sabem investir no esporte e ajudar a transformá-lo em produto. As agências não crescem pela falta de maior maturidade da indústria. Em 2009, depois que o Rio foi eleito sede olímpica, todo mundo achou que era a hora do esporte.

O grande futuro da indústria estará depois dos eventos, quando será preciso fazer uso daquilo que foi construído para Copa e Olimpíada. Faremos muito mais coisas com o esporte, saberemos transformar muito mais ideias em produtos, teremos as empresas mais maduras para investir e, aí sim, será possível realmente crescer como se imaginava no esporte.

Mas, se alguém imaginava que a indústria esportiva se multiplicaria de uma hora para a outra só por causa dos megaeventos, vale lembrar a regra básica da matemática. Qualquer número multiplicado por zero é igual a zero.


It’s a Match! Ou. Como fazer dinheiro e atrair torcida
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Erich Beting

Líder da Conferência Leste na NBA, o Atlanta Hawks deu uma aula de como fazer dinheiro, atrair e entreter o torcedor num jogo de quarta-feira à noite. Num acordo com o aplicativo para celular Tinder, o Hawks fez da partida contra o Memphis Grizzlies um acontecimento. Criou o Jogo do ''Deslize para a Direita'', em alusão à funcionalidade do aplicativo.

O Tinder é um aplicativo para promover ''encontros''. Você cadastra o seu perfil, coloca as características que gostaria de ver num parceiro e, então, o aplicativo mostra quem está ''disponível'' dentro desses atributos nas redondezas. Se você gosta da pessoa, desliza para a direita a foto dela. Se a pessoa também deslizou para a direita sua foto, o aplicativo avisa: ''It's a Match!''.

A sacada do Hawks foi fechar a parceria com o Tinder para promover o jogo. Quem estaria na quadra era o de menos. O negócio era promover um encontro na Philips Arena para os seus torcedores a partir do uso do aplicativo.

O acordo com o Tinder gerou uma receita para o clube que, literalmente, já valeu o ingresso. Ou pelo menos subsidiou o torcedor que iria ao evento. O valor pago para ir ao ginásio era o de menos. Os US$ 15 davam um crédito de US$ 10 para bebidas. No fim, os US$ 5 que ''sobravam'' devem ter coberto o preço para imprimir o ingresso. E olhe lá.

Arte para promover o "Jogo do Encontro" do Atlanta Hawks

Arte para promover o ''Jogo do Encontro'' do Atlanta Hawks. Detalhe para o preço (US$ 15, com direito a US$ 10 de crédito para tomar bebidas)

Ao todo, 17.126 torcedores foram ao jogo (eram 18.238 lugares disponíveis no ginásio). A média que o Hawks tem obtido na atual temporada, quando faz uma campanha espetacular, é de 16.007 torcedores por partida.

Mas, mais importante do que isso, foi o furor causado pela ação. O time entregou aos homens, na entrada do ginásio, rosas para serem entregues às mulheres. Ao longo do tempo, os torcedores que conseguiram formar seus pares iam colocando fotos nas redes sociais e identificando com a expressão #SwipeRightATL.

O mais divertido foi ver a reação dos torcedores que ficaram em casa, lamentando o fato de não terem ido ao jogo para, também, poder se dar bem. Além disso, diversas personalidades brincaram com o fato.

Ontem abordei por aqui que o formato de disputa da competição para atrair o torcedor a um jogo de futebol é o de menos. O Atlanta Hawks mostrou que é só usar um pouco a criatividade, e oferecer uma solução a um parceiro comercial, que é possível atrair dinheiro, agradar a torcida e fazer um bom marketing.

O jogo? Ah, foi mais uma vitória do Hawks, por 96 a 86. E muitos veículos de mídia disseram que o Hawks deslizou para a esquerda o Memphis. Mas só daqui a 9 meses saberemos também se a ação do Tinder resultou em novos torcedores para o Atlanta…