A mudança de forças da Liga dos Campeões no Brasil
Erich Beting
A vitória do Esporte Interativo na concorrência sobre os direitos de transmissão da Liga dos Campeões da Europa (detalhes aqui) representa uma tremenda mudança de forças sobre o mercado de TV fechada no Brasil.
Até 2012, havia uma espécie de polarização no segmento. Sportv e ESPN dominavam, com folgas, o mercado. Uma focada nos principais eventos brasileiros, enquanto a outra detinha os principais eventos do exterior. Há quase 20 anos, quando a TV fechada começou a engatinhar no país, essa era a realidade do mercado.
A entrada da Fox Sports, fazendo valer a exclusividade sobre a transmissão da Copa Libertadores, já bagunçou um pouco esse cenário. Com a força do grupo comandado por Rupert Murdoch, a Fox saiu comprando direitos do exterior, negociando duro com as operadoras e, em cerca de um ano, conseguiu um respaldo e um respeito consideráveis no mercado. A estratégia da Libertadores provou ter sido bem-sucedida, com a emissora rapidamente ganhando espaço nas operadoras e incomodando a vice-liderança da ESPN.
Três anos depois, a vitória da EI sobre os direitos da Liga dos Campeões, tendo por trás o apoio do grupo Turner, que se tornou acionista da empresa no ano passado, representa uma nova divisão de forças. O evento mais desejado do futebol no mundo passa a ser exclusivo de uma emissora que ainda nem tem participação na TV fechada brasileira.
Ainda é cedo para prever o caminho que será adotado pela emissora. Pelo estilo que sempre permeou a EI desde os tempos em que a empresa começou a migrar de uma agência de marketing esportivo para uma emissora, dificilmente os direitos serão divididos com outra emissora. A negociação com as operadoras também serão delicadas. Até por ter o apoio do grupo Turner, a EI não pode desagradar quem é responsável por distribuir o conteúdo produzido pelos diversos canais que a Turner possui.
Caso o cenário da TV fechada não se estabilize, uma nova revolução pode estar por vir. A EI pode optar por deixar apenas para os canais da Turner (especialmente o Space, que transmite a NBA) a transmissão da Liga dos Campeões na TV e apostar todas as fichas no EI Plus, sistema de transmissão por dispositivos móveis.
Nesse caso, em vez de ver pela TV, o torcedor poderá acompanhar às partidas pela internet, tablet ou celular, ao custo de uma assinatura mensal do pacote. O modelo é o mesmo que fez a Netflix revolucionar o mercado de TV por assinatura dos EUA.
Por lá, esse é o grande dilema vivido pelo esporte hoje. Com a consolidação de plataformas como o Netflix e o fortalecimento das TVs sob demanda das principais ligas esportivas, há um questionamento se é interessante deixar a transmissão dentro do modelo tradicional da TV, seja ela aberta ou paga.
O fato é que a vitória do EI na Liga dos Campeões abre uma série de possibilidades sobre a transmissão de eventos esportivos no Brasil. E, ao que parece, nem mesmo a emissora ainda sabe quais as respostas para o que virá (a EI só vai se pronunciar quando a Uefa oficializar o acordo).
O mais interessante de tudo isso é perceber que, há dois anos, os direitos de transmissão no Brasil viviam um cenário muito rígido e estabelecido. Agora, poderá sofrer uma enorme transformação que pode ter impacto, no futuro, na maneira como são exibidos os eventos esportivos aqui do Brasil mesmo.