Negócios do Esporte

Por que o patrocínio não decola no Brasil
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Erich Beting

O patrocínio esportivo ainda vive num período pré-cambriano no Brasil. Marcas e esporte não conseguiram, ainda, entender quais os benefícios que podem existir de um acordo desse tipo. Ainda ficamos, como quase todo o mundo, na equação milimétrica da exposição da marca em mídia para saber se vale ou não a pena investir num patrocínio.

A exposição é importante, em mercados não-maduros é a melhor forma de mensurar a eficácia de um patrocínio, mas não pode ser a única fonte para ser explorada. Tanto pelo patrocinador quanto pelo patrocinado.

O problema é que esse modelo, que foi a base do sucesso do início do mercado de patrocínio, nos anos 80/90, não consegue ter mais sobrevida. O consumo de mídia mudou radicalmente desde então, em especial nos últimos cinco anos, quando as pessoas passaram a ser a produtoras e consumidoras do conteúdo. Hoje, não é mais a pessoa que vai até a informação, mas a informação que deve chegar até ela.

Só que o esporte, no Brasil, ainda não se colocou na posição de produtor de conteúdo. Ele ainda se enxerga como meio, e não como fim. O esporte se vê como o meio para a marca aparecer na televisão, quando na verdade ele é o meio para a marca chegar ao consumidor.

Da mesma forma, as marcas não conseguem explorar a potencialidade do esporte nesse nível. A preocupação é saber o quanto vai se ''economizar'' de investimento em mídia, em vez de saber de que forma se apropriar do esporte para falar com o consumidor. Quando passa a enxergar com esses olhos, as empresas conseguem traçar planos que podem atendê-las com verbas que vão desde um campeonato escolar até uma Copa do Mundo. Não é preciso ter muito dinheiro, mas um bom plano traçado.

Um exemplo banal dessa falta de maturidade do mercado brasileiro é o patrocínio da Chevrolet ao Manchester United. A montadora anunciou que uma torcedora brasileira vai entrar em campo com o time inglês na abertura da Premier League, no próximo dia 16. Foi um benefício oferecido por um patrocinado na Inglaterra a um parceiro global para fazer uma ação no Brasil.

A mesma Chevrolet, no Brasil, patrocina mais de 20 campeonatos estaduais há dois anos. Perguntar não ofende, mas alguma vez algum torcedor entrou no campo num desses jogos numa ação feita pela montadora?


Usain Bolt pode ser igualado a Pelé e Jordan no marketing
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Erich Beting

Usain Bolt é o primeiro atleta a faturar muito mais dinheiro com patrocínio do que com verbas de participação em eventos e/ou salários. Isso não é nenhuma novidade, mas só reforça a importância que ele tem hoje para o mercado de marketing esportivo.

O jamaicano conseguiu ser o primeiro profissional do atletismo a bater a barreira dos US$ 10 milhões ao ano em faturamento. E a conta, pelo visto, não para de crescer.

No fim de semana em que dá o ar da graça aqui no Brasil para o ''Mano a Mano'', o jamaicano recordista mundial de todas as provas de velocidade do atletismo quebra mais um recorde: é o primeiro atleta a ditar o posicionamento de duas marcas diferentes no mercado. E, o que mais impressiona, em ramos completamente distintos de atuação.

Há quase dois anos a Nissan nomeou Bolt o seu ''diretor global de excitement''. Um cargo figurativo, logicamente, dado a um cara que funciona como uma espécie embaixador da marca. O curioso, porém, é que o reposicionamento global da Nissan a coloca como uma marca que traz ''innovation and excitement'' para todos. Bolt é a figura ideal para liderar o time de embaixadores. Com seu estilo extrovertido e contagiante, é inegável a capacidade que ele tem de ''excitar'' as pessoas (no sentido mais puro da coisa).

Recentemente ele já havia ditado, também, a nova comunicação da Puma no mercado. A fabricante, que tem no jamaicano o seu principal ativo, passou a se vender como a marca ''mais rápida'' do mundo, graças logicamente à performance do velocista nas pistas.

Bolt consegue ser o atleta mais próximo da perfeição para as marcas nos dias de hoje. Num mundo dominado por atitudes quase sempre artificiais, é bom ver que ser autêntico é talento reconhecido no mercado. O que Usain Bolt consegue fazer no mercado de marketing esportivo e para o próprio atletismo é feito comparável ao que Pelé fez no futebol e Michael Jordan no basquete. Hoje, ele é um dos poucos esportistas que, graças à força de sua marca, levou para o mundo todo a modalidade que pratica.


A Globo finalmente se mexeu. Será que isso é bom?
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Erich Beting

Demorou, mas finalmente a TV Globo percebeu que a estratégia do “quanto pior, melhor” não pode funcionar para o futebol brasileiro. Há cinco anos que a emissora meio que fica só de canto, olhando o circo pegar fogo e os clubes se desunirem como nunca.

Agora, constatou-se o óbvio: se o futebol continuar desunido, será cada vez menos um bom produto.

No domingo, a Globo teve, no Rio e em São Paulo, o pior índice de audiência do ano (detalhes aqui e aqui). Nada anormal, não fosse o fato de os índices negativos terem sido com Corinthians e Flamengo, seus dois maiores clientes, na transmissão ao vivo!

O fundo do poço era uma crônica anunciada (e quem lê o blog sabe que desde 2010 que se bate nessa tecla).

A vaidade de se autodenominar como “mais valioso” fez os clubes deixaram de lado o que realmente faz deles objetos de valor, que é a construção de um campeonato emocionante e de alto nível técnico. Time de futebol só pode ser rival dentro de campo. Fora dele, os dirigentes precisam engolir vaidades e entender que trabalham para algo maior, que é o campeonato que disputam.

Com o efeito de ressaca pós-Copa, o baque começa a preocupar. Nunca o público deixou tão claro que anseia por mudança. Por isso o movimento da Globo não é apenas simbólico. Ele pode representar de fato uma boa mudança para o futebol.

O grande problema é que, mais uma vez, o sentimento de que as coisas têm de melhorar veio de fora para dentro. Não foram os próprios clubes que perceberam a necessidade de se articular e discutir melhorias para o futebol. Pior que isso, a origem do clamor por mudança é de quem tem todos os times na mão pelo poder econômico.

O futuro continua a ser uma grande incógnita…


Temos de querer a Copa, Mano!
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Erich Beting

Mano Menezes reclamou após o modorrento 0 a 0 de Coritiba e Corinthians às críticas e comparações feitas ao ''futebol'' praticado no Brasil em relação àquele da Copa do Mundo. Para o treinador, não é possível comparar o Mundial com o Brasileirão.

É verdade, são realmente preparações e níveis técnicos completamente distintos. Mas não podemos aceitar que o ''Padrão Brasil'' seja o do jogo que fez jus às duas letras iniciais dos dois time.

O que mais mudou na Copa em relação ao período anterior a ela foi o nível de exigência do torcedor. Antes, apenas quando ligávamos a TV no futebol da Europa tínhamos acesso a um espetáculo de alto nível. Boa parte dos jornalistas e dos torcedores estava acostumada a não ver, nos gramados daqui, um futebol de qualidade. Assim, acostumamo-nos a ver, na boa vontade dos jogadores, sinônimo de bom jogo e de disputa ''emocionante''.

Aí veio a Copa. Por ser no Brasil, jornalistas e torcedores que nunca haviam tido a oportunidade de ver grandes jogos in loco. Pudemos perceber que é possível praticar um futebol defensivo, mas bonito, como o da Costa Rica. Tivemos, por 30 dias, contato com algo bem diferente daquilo que víamos por aqui. E, por isso mesmo, aumentamos a cobrança por melhoria na qualidade da bola que é chutada por aqui.

Não podemos esquecer a Copa do Mundo. Temos, pelo contrário, de trabalhar para conseguir um padrão melhor para o futebol que é jogado no Brasil. O futebol feio é um limitador de público. Sendo assim, ele perde o interesse para diversas outras formas de entretenimento, gera o afastamento das pessoas e, por fim, diminui consideravelmente o campo de trabalho para aqueles que vivem (ou pretendem viver) dele.

Mano Menezes, pelo bem do seu emprego, é preciso que torcedores e imprensa queiram ver o Corinthians, maior orçamento do futebol brasileiro, praticando um futebol de dar gosto.

Pensar no resultado de curto prazo é não olhar para o óbvio. A continuar nesse ritmo, em 30 anos, o futebol praticado no Brasil estará restrito a um público fanático, que torce para o clube independentemente do grau de satisfação de espetáculo que ele apresente. E o mercado de trabalho ficará, logicamente, muito menor.

Temos de querer o futebol da Copa do Mundo de volta! Afinal, ele é o exemplo de como é possível praticar o melhor futebol do mundo. E, dessa vez, foi aqui em casa… Conformar-se com o que estamos fazendo com o futebol é uma tremenda falta de visão.


O risco do ‘jeitinho’ para o Rio-2016
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Erich Beting

O sucesso da Copa do Mundo é o maior perigo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Entramos hoje na contagem regressiva para o 5 de agosto de 2016. Passado quase um mês do término do Mundial de futebol, os olhos de todos, agora, voltam-se para a Cidade Maravilhosa.

O Rio de Janeiro terá de conseguir entregar, nos próximos 731 dias, um evento que comprove na prática aquilo que conseguimos vender na teoria. O plano que fez da cidade vencedora da concorrência para sede dos Jogos de 2016 foi um dos mais brilhantes planos estratégicos já feitos no esporte nacional.

Soubemos vender muito bem nosso peixe naquele 2 de outubro de 2009. Foi o tal do plano perfeito. Mostramos, claramente, que, se o COI quisesse se mostrar uma entidade moderna, teria de escolher pela primeira vez um país sul-americano para abrigar os Jogos. Respaldados pela maré otimista que cercava o Brasil à época, os dirigentes do comitê internacional deram ao Rio a responsabilidade de ser o anfitrião do maior evento esportivo do planeta.

Para que tudo não vire pó, o Rio tem pela frente um desafio ainda maior do que aquele vencido aos 45 do segundo tempo pelo Brasil em relação à Copa do Mundo. Conseguimos fazer um Mundial genuinamente brasileiro, naquela improvisação assustadora, mas eficiente, que tanto marca nosso país.

Só que o relógio olímpico é mais cruel. O COI acompanha a rédea curta a preparação da cidade-sede. A mídia americana entra de sola muito mais do que na Copa. Os atletas, então, são muito mais engajados e exigentes que os jogadores de futebol. A complexidade de uma Olimpíada impede que sejamos tão adeptos do bordão ''no final dá certo''.

Está passando da hora de o Rio executar o projeto Olímpicos. Aparentemente falta muito. Na prática, sabe-se que não sobra quase nada de tempo para a cerimônia de abertura.

Se não quiser ver a pira olímpica apagar, o Rio precisa abolir o ''jeitinho''. Deu certo na Copa do Mundo. É arriscar muito esperar que novamente consigamos uma mágica tão grande nas Olimpíadas.

Faltam só dois anos…


Por que o profissionalismo sucumbe no esporte?
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Erich Beting

Há cerca de um ano e meio, Flamengo e Palmeiras trouxeram sopros de esperança para o torcedor. Após gestões temerárias nos dois clubes, eram eleitos presidentes que traziam consigo o discurso da profissionalização e, especialmente, da racionalização dos gastos. Tanto Eduardo Bandeira de Mello quanto Paulo Nobre conseguiram ganhar a credibilidade do torcedor ao afirmarem que suas gestões iriam resgatar a grandeza de seus clubes, o orgulho de ser Mengão e Verdão e, melhor ainda, equilibrando financeiramente a casa.

Hoje, o Flamengo figura na zona de rebaixamento do Brasileiro, o Palmeiras flerta mais uma vez com ela e, fora de campo, parece que a casa da Mãe Joana continua. O clube paulista já pegou mais de R$ 100 milhões emprestados do próprio presidente, enquanto o Flamengo tenta adiantar as cotas de televisão de 2017 e 2018!!!!

O profissionalismo do discurso mostrou-se, na prática, tão ruim ou pior que a loucura descabida das gestões anteriores.

O fato é que o ambiente do esporte no Brasil hoje é tão viciado que é muito, mas muito difícil, conseguir fazer algo diferente. Os clubes estão endividados e, assim, precisam achar uma maneira de equilibrar o caixa e manter a competitividade esportiva. É, a grosso modo, tentar manter uma padaria aberta mesmo sem ter dinheiro para comprar a farinha de fazer o pão. É uma arte, requer muito malabarismo, jogo de cintura e, sobretudo, competência.

O que seria o grande mérito flamenguista nessa história toda virou pó em pouco mais de um ano. A austeridade fiscal cobra o preço de um time que, dentro de campo, está longe de lembrar o passado glorioso do Rubro-Negro e muito menos de resgatar o orgulho do torcedor. E, aí, a diretoria, pressionada pelo resultado dentro de campo, comete erros que dificilmente cometeria numa empresa, em que não existe um consumidor tão exigente (nem tão fiel) quanto no futebol.

Da mesma forma, nos lados do Palmeiras existe um grande sentimento de frustração pelo fato de o clube só sobreviver pelos empréstimos de Paulo Nobre. Não há patrocínio máster na camisa, não há competitividade do time dentro de campo, há perda de jogadores importantes e que poderiam engajar o torcedor (como Barcos e Allan Kardec).

Ao se deparar com tudo isso, o torcedor logicamente pergunta: ''É isso o que os ditos profissionais conseguem fazer?''.

O caso mais recente que mostra um caminho é, goste-se ou não, o do Corinthians. Quando a diretoria liderada por Andrés Sanchez assumiu o clube, ele vivia a mesmíssima situação de Flamengo e Palmeiras. Muitas dívidas, despesas altas e poucos caminhos a serem vislumbrados.

O que o Corinthians fez de diferente foi, primeiro, equilibrar o caixa. Renegociou as dívidas e adotou uma política clara de não-endividamento. Não se faria loucuras a partir daquele ponto. O Flamengo fez a primeira parte do plano, enquanto o Palmeiras executa a segunda. Só que ambos não olharam o terceiro passo fundamental nessa história: o torcedor.

A queda na Série B ajudou o Corinthians nesse sentido. O clube passou a contar histórias que resgatassem o carinho da torcida pelo time. E, na base de uma boa plataforma de comunicação, recolocou-o ao lado do clube. O resgate não se deu pelo resultado dentro de campo, mas pela lembrança do torcedor de que o Corinthians é mais do que o momento, é uma condição de vida.

Não havia a figura do profissionalismo no discurso de Andrés Sanchez. Pelo contrário. Ele representa o que há de mais caricato na história da cartolagem do futebol brasileiro. É centralizador, truculento, frasista, tirador de sarro. Mas teve uma enorme virtude. Deu, aos profissionais que faziam parte do cotidiano do clube, autonomia para gerenciá-lo. Atuando dentro de um plano bem estabelecido e com as metas muito bem traçadas, o Corinthians saiu das catacumbas para o topo do mundo. E perdeu o pé exatamente quando Andrés deixou de lado todas essas virtudes e virou ''mais do mesmo'', sendo apenas o cartolão igual aos outros.

O profissionalismo no esporte só conseguirá ser enraizado quando deixar de ter discursos de profissionalização para ações práticas disso. O presidente do clube é uma mera figura política. Ele que tem de dar as caras, mas não as cartas, no dia-a-dia de uma entidade. Abaixo dele, é preciso ter gente com autonomia para traçar o planejamento e executá-lo. Logicamente dependendo da aprovação e supervisão da diretoria, mas com a liberdade para não perder o rumo das coisas.

O governo federal tem, hoje, todas as condições para conseguir exigir essa nova postura dentro dos clubes. A força da caneta da aprovação da Lei de refinanciamento das dívidas (o Proforte, nome da vez para a quinta medida do gênero no futebol brasileiro) faz com que a oportunidade esteja passando na porta.

Se conseguir exigir melhoria de gestão para a continuidade da existência dos clubes, o governo conseguirá iniciar a revolução que tanto se pediu após os 7 a 1 da Alemanha. Não adianta achar que partirá do comando do futebol qualquer movimento de mudança. Isso implicaria, necessariamente, na mudança do comando do futebol.

Qualquer transformação só virá quando o futebol arejar suas ideias. Para isso, é preciso mudar a forma como os clubes se organizam. E, a partir deles, naturalmente vamos precisar mudar a forma como o futebol é gerenciado no Brasil.

Se não, o profissionalismo vai continuar a sucumbir no esporte. Não por falta de vontade de novas cabeças que aparecem, mas por total incapacidade de se mudar as coisas no meio viciado em que atualmente o esporte se encontra no país.


A falta que faz a união dos clubes
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Erich Beting

Quando, motivados por um aumento substancial no dinheiro recebido da televisão, os clubes decidiram acabar com o Clube dos 13, lá em 2010, eles regrediram alguns bons anos na gestão comercial do Campeonato Brasileiro.

Não que o C13 fosse uma entidade que representasse bem os clubes. Mas, com erros e acertos, a instituição era um ponto único de negociação coletiva para os clubes no Brasil.

O fim de uma entidade representativa de classe significou o fim de qualquer possibilidade de se facilitar a negociação de acordos comerciais coletivos para o futebol no Brasil.

O problema entre a EA Sports e os clubes para ter os times brasileiros na versão do Fifa 15 é mais uma prova de como pode ser maléfico o fim das negociações em conjunto dos clubes.

Na lógica do negócio da EA, foi mais simples deixar de ter os clubes do Brasil do que ter de sentar e, um a um, renegociar todos os contratos. A avaliação é de que é mais simples ter de abrir mão dos times locais do que perder tempo e dinheiro renegociando os acordos previamente firmados.

A questão que envolve os games não é financeira. Com o calendário inchado e desconexo da Europa, os jogos são uma forma de levar a marca dos times para o exterior. Ao não ter os brasileiros no game oficial da Fifa, a perda dos clubes é significativa.

A Europa ensina há décadas que viver só do dinheiro da TV é um risco. E o futebol no Brasil parece que só tem olhos para essa fonte de receita. Enquanto não houver um trabalho para fazer com que os clubes voltem a ter alguém que os represente de forma única, será cada vez mais raro uma empresa querer fechar um projeto conjunto envolvendo o futebol no Brasil.

Os dirigentes continuam com a mentalidade tacanha de achar que os clubes são rivais entre si também fora de campo, quando a lógica deveria ser completamente oposta. Para ganhar maiores margens financeiras e conseguir ampliar o alcance de suas marcas, os clubes precisariam, urgentemente, voltar a pensar coletivamente.

Parece que só no futebol os principais executivos não acreditam que, às vezes, a união é o melhor para os negócios…


O patrocínio não precisa servir só para o público final
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Erich Beting

Parece batido, mas muitas empresas ainda têm dificuldade em entender que o patrocínio não pode ser visto como algo eficiente apenas para o público final, que é teoricamente o consumidor da marca.

Nesta semana, o Bradesco deu uma demonstração de que pode ser muito útil para a empresa usar a propriedade que é patrocinada para trabalhar o público interno.

Na terça, os jogadores da seleção masculina de basquete estiveram presentes na sede do banco, em Osasco (SP), para realizar um treino no ginásio existente lá. A atividade foi acompanhada pelos alunos dos projetos sociais envolvendo o basquete que a instituição mantém. E, depois disso, os jogadores foram conversar com executivos e funcionários do Bradesco.

A ação, que durou o período de um dia, ajudou a reforçar o investimento que a empresa faz no esporte ao mesmo tempo que levou para os alunos dos projetos sociais a figura do ídolo. Internamente, a presença dos atletas de seleção fazem o funcionário se engajar mais com o patrocínio feito pelo banco. Ao ter contato com o jogador, começam a acompanhar mais o esporte.

Uma das funções primordiais do patrocinador é ajudar a promover a entidade que patrocina. No cenário da Copa do Mundo, vimos isso com bastante clareza. Os patrocinadores se esforçaram para elevar o interesse das pessoas no evento e, na ponta final, melhorar a relação com os consumidores e também com o público interno, que são os funcionários.

O patrocínio esportivo vai muito além da exposição da marca. Em dois anos, vamos ver uma nova realidade invadir o esporte, com as ações dos patrocinadores das Olimpíadas, evento em que não há nenhuma marca exposta a não ser os aros olímpicos. Até lá, dá para se trabalhar bastante para não restringir o patrocínio à exposição. Aprendemos muito pouco com a Copa do Mundo.

O exemplo do Bradesco mostra que as marcas podem ter diversos benefícios ao investir em esporte. Se for buscar apenas a medição de horas de exposição na TV, a relação custo-benefício será cada vez menor.

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Atletas da seleção masculina de basquete durante a visita ao prédio do Bradesco


A encruzilhada dos pontos corridos no Brasil
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Erich Beting

O futebol brasileiro completa, neste ano, a 11ª edição de seu maior campeonato no formato dos pontos corridos. Medida tomada à força do Estatuto do Torcedor em 2003, o Brasileirão por pontos corridos chega, agora, a uma encruzilhada.

Os pontos corridos são, sem dúvida, o sistema mais justo para definir o campeão. Além disso, permitem as melhores condições de planejamento para as equipes na temporada e, também, aumentam a arrecadação com TV e patrocínio pela maior quantidade de jogos disputados.

Só que, por outro lado, a decadência técnica do futebol está fazendo com que os pontos corridos matem aquilo que há de mais imprescindível dentro da cadeia do esporte, que é a paixão acesa do torcedor.

Sem bom nível técnico dentro de campo, o torcedor menos fanático começa a se distanciar do futebol. Ainda mais quando o campeonato é mais arrastado e os clubes, emissoras e dirigentes pouco fazem para criar motivos para o torcedor querer consumir os jogos.

O reflexo dessa situação está na estagnação da audiência na TV e, também, na procura baixa pela ida aos estádios. Hoje, o futebol está praticamente restrito ao torcedor fanático. Só quem é apaixonado por ele continua a acompanhar e consumir. O torcedor menos fanático, que é a maioria, fica cada vez mais distante.

Num cenário em que o Brasileirão tem 38 rodadas e menos imprevistos, fica ainda mais difícil chamar a atenção de quem divide o tempo livre com diversas outras atividades além do futebol. Tanto que a audiência de Corinthians x Palmeiras do último domingo foi menor que a do clássico durante o Campeonato Paulista deste ano, quando havia a chance de um dos times ser eliminado da competição graças ao formato de disputa previsto.

Hoje, o retorno à fórmula do ''mata-mata'' pode ser uma alternativa para atrair mais público para o futebol no curto prazo. Esportivamente a medida é condenável, já que não deixa mais justa a disputa pelo título. Mas, estrategicamente, é uma solução para atrair um tipo de torcedor que se distanciou do futebol por não ter nele tanto interesse.

Outro caminho, esse de longo prazo, é melhorar a qualidade do espetáculo, reduzir a dependência da televisão, diversificar as fontes de receita dos clubes e trabalhar para que se dependa cada vez menos do atual ciclo vicioso que dominou a gestão no país.

Um dos maiores diferenciais do esporte em relação às demais formas de entretenimento é justamente a sua imprevisibilidade. No atual cenário do futebol nacional, a solução para isso, no curto prazo, é tornar o Brasileirão um torneio mais atraente para o público.

Os pontos corridos, hoje, infelizmente estão numa encruzilhada…


Copa prova que Brasil não sabe faturar com estádio
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Erich Beting

É alarmante, para dizer o mínimo, o resultado apresentado pela Visa com os números relativos às transações financeiras que aconteceram dentro dos estádios na Copa do Mundo. A preocupação não é tanto com o consumo de R$ 30 milhões apenas com os meios de pagamento da empresa de cartões, mas com o quanto isso deixa evidente que o futebol no Brasil não sabe explorar seu produto (detalhes podem ser vistos aqui).

 

Numa conta rápida, já que não se tem os detalhes do faturamento da venda em dinheiro, dá para crer que cada jogo da Copa movimentou cerca de R$ 1 milhão só com a venda de bebidas, comida e produtos licenciados. Um estádio da Fifa não traz praticamente nada de diferente para que o consumidor deixe muito dinheiro nele. No máximo as lojas oficiais são os pontos de venda mais concorridos. Imagine se houvesse outros pontos de interesse para a pessoa gastar?

Os estádios precisam, cada dia mais, serem vistos como centros de consumo. Devem ser planejados para abrigar um número significativo de lojas e opções de alimentação para as pessoas. A experiência do torcedor precisa ser feita para que ele chegue com pelo menos três horas de antecedência e sair duas horas depois da partida (logicamente nos jogos de fim de semana, quando há mais tempo para isso).

Ao fazer isso, além de ter menos transtornos com o deslocamento da torcida, há muito mais opção de geração de receita para os gestores dos estádios. Se a Fifa, mesmo sem grande esforço, conseguiu faturar quase R$ 1 milhão em vendas por jogo da Copa, o que dirá dos clubes de futebol no Brasil, que podem explorar semanalmente essa fonte de receita e, mais do que isso, criar motivos para que o torcedor queira consumir ainda mais?

Três dias depois do término da Copa do Mundo, alguns dos estádios que estiveram no Mundial receberam partidas do Campeonato Brasileiro. Nem mesmo os quiosques de alimentação estavam presentes na área que foi criada pela Fifa para ser o ponto de encontro – e consumo – dos fãs.

Os clubes no Brasil ainda acham que a bilheteria é a receita primária de um estádio, sem perceber que o melhor é enchê-lo de gente. E, então, faturar. Enquanto os dirigentes ainda querem se vangloriar de quem ganha mais com a venda de ingressos, muito mais inteligente seria debater quanto cada torcedor deixou de seu dinheiro no dia de jogo.

Só com ações desse gênero será possível reduzir a dependência de fontes como patrocínio e televisão no futebol. O potencial, ficou claro, existe.

Em tempo. Para quem acha que os números altos da Fifa são por conta do torcedor estrangeiro, o consumidor brasileiro foi responsável por gastar R$ 19 milhões desses R$ 29 mi nos estádios. Dinheiro para ser gasto existe. Falta ter motivo para isso.